2 de junho de 2025   
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COMBATE AO DESEMPREGO

Quem desce Almirante Barroso encontra à sua direita e a meio desta rua sombria um edifício incaracterístico, de construção moderna, que ostenta na frontaria, enegrecida ao contacto de um arvoredo frondoso que nos rouba a luz e o sol, uma modesta placa metálica com esta inscrição: «Ministério das Obras Pública – Comissariado do Desemprego».
É aqui que reside o coração e o cérebro de um organismo que se ramifica por todos os distritos e concelhos e abraça as nossas ilhas adjacentes. É aqui trabalham cerca de 400 empregados, grande parte deles recrutados entre os que, cansados e desenganados de uma vida que não lhes sorriu, recorreram ao Comissariado do Desemprego, na crença de encontrar nele o amparo que regenera e o trabalho que dignifica.
Lisboa tem para o desempregado uma atracção irresistível. Muitos abandonam a terra e a família e, guiados mais pelo espírito de curiosidade e de aventura do que pela esperança de encontrar trabalho imediatamente, aqui se acolhem, encostados a um parente, a um amigo ou a simples conterrâneo. Passam-se as semanas e os meses, o emprego não aparece; se hoje é quase uma certeza, é amanhã uma tremenda desilusão.
Todos o afastam, o parente já não pode socorrê-lo, o amigo está cansado, o conterrâneo esgotou a paciência. Então escorraçado por uns e abandonado por outros, a vida do desempregado torna-se mais difícil ainda; já não tem um tecto que o abrigue e o pão nem sempre aparece. Pouco a pouco foi-se desfazendo de quanto representava valor e agora nada mais resta. Falta-lhe apenas vender a alma.
É geralmente nesta fase, junto do abismo, sem um amigo que lhe diga uma palavra de conforto, de estímulo, de fé, quando todas as portas se fecham e todos os rostos se voltam, que esse pobre homem resolve procurar a sombra acolhedora desta casa. Depois de um calvário sem fim, uma esperança renasce com a promessa de uma colocação.
É quando ela finalmente chega, o homem perdido, escorraçado, abandonado, pensa e sente que o trabalho é a eterna e inesgotável fonte da existência e que é dele que emana a dignidade e a virtude. Nesse novo ambiente laboriosidade, calmo e digno, servido por uma autoridade imparcial e justa e por uma disciplina serena e firme, o desempregado regressa à vida, à realidade, e recupera ou adquire qualidades que o tornam um elemento útil e valioso para a sociedade.
É este, em verdade, o quadro mais vulgar, mais frequente, o que traduz melhor a descrença, a falta de confiança do desempregado no serviço público, a que, infelizmente, só tarde recorre, quando a sua vida física e moral está prestes a afundar-se.
Outros, mais previdentes e mais confiantes, apressam-se, quando o desemprego lhes bate à porta, a preencher o boletim que depois lhes facultará a desejada ocupação. E neste caso nem se perderam os hábitos de trabalho, nem há problemas morais a resolver.
Arrancar um homem à ociosidade e transformá-lo num elemento socialmente proveitoso é obra enternecedora e bela, a mais grata ao coração de quem manda.

(Continua)

(Parte CXXXVI de …)


15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (136)

(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – COMBATE AO DESEMPREGO – Carlos Augusto de Arrochela Lobo – Comissário do Desemprego)

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