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Pletórica de população, com cerca de 350 a 1.200 habitantes por quilómetro quadrado, respectivamente da área total e da área cultivável, tão altos números na demografia encontram perfeito paralelo noutros de índole económica e geofísica. É o alto valor das terras irrigadas, a atingir com frequência 30$ a 75$ por metro quadrado; é o valor da produção, a alcançar, no hectare das culturas ricas, a casa das sete dezenas de contos; são as produções, menos nobres, da batata doce e da redonda, a atingir e a ultrapassar em cada espécie 15 toneladas por hectare dos melhores terrenos; é o emaranhado das condições agrícolas, em que se chega a contar mais de meia dúzia de variedade de culturas no mesmo canteiro; é o encontrar-se, com mais facilidade do que seria de esperar, o valor da água de rega a atingir os 5$ e mais por metro cúbico, representativo de um encargo anual passante de 20 contos por hectare, difícil de admitir como suportável, mesmo quando fica nas casas mais frequentes dos 5 contos a 10 contos. Verifica-se ainda na relação entre a altura dos 1.861 metros do seu maior pico com a largura máxima de 22 quilómetros da ilha; nos pendores naturais das encostas, chegando, na média, aos 100 por cento e indo, na realidade, ao infinito, nas espaldas das escadas gigantescas em que se transformam e em que as dimensões dos degraus se confinam a enormes alturas; no poder erosivo das torrentes, manifestado nas ravinas a descer, quase na prumada, até ao milhar de metros; no torcicolado das estradas, caminhos e passos das montanhas, a duplicar e a triplicar as distâncias a percorrer em subidas e descidas contínuas, e, finalmente, na conjugação maravilhosa das quedas pluviométricas anuais, a sobrepassarem os 4 metros nalguns anos, e, em certas zonas altas da vertente norte, com a quase secura das terras litorais, em especial no sul, onde a média térmica anual é de 18,3 graus, com 16 no Inverno. E, para fecho, o milagroso poder das terras em reter as águas pluviais, que transformam esta montanha numa albufeira com uma capacidade da ordem dos 200 milhões de metros cúbicos, generosamente posta à nossa disposição. O homem, porque quer ser digno de tão providencial dádiva, logo surge a aproveitar recursos tão preciosos, realizando uma monumental obra de engenharia hidráulica, encetada em grande escala mesmo no século da descoberta e continuada através dos tempos, num desafio de pigmeu contra gigante, mas do qual, por fim, sai vencedor, pela força da sua inteligência e do seu ânimo inquebrantável. Ao suor de todos juntou-se o sangue de muitos; mas os abismos venceram-se, a toupeira furou a montanha em tarefas de décadas; e o que se patenteia à nossa admiração não se curva à exigência de qualquer conceito e corresponde, na perfeição, à clarividência dos preceitos jurídicos em que a sua execução se baseou.
(Continua)
(Parte CV de …)
15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (105)
(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – APROVEITAMENTOS HIDRÁULICOS DA MADEIRA – Manuel Rafael Amaro da Costa – Presidente da Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira) Consultar todos os textos »»
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