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Este plano baseou-se, por um lado, no convencimento, a que técnicos especializados pelo assunto depressa chegaram, de que em Portugal, para compensar a irregularidade do regime das chuvas, a falta quase completa de degelos e o carácter semitorrencial dos nossos rios, a energia eléctrica de origem hidráulica só poderá ser convenientemente produzida, na grande maioria dos casos, quando os respectivos aproveitamentos se apoiarem em albufeiras de vastas capacidades (tão vastas quanto for consentido pelas condições topográficas e geológicas dos locais interessados), capazes de conter a maioria dos caudais de cheias, e, por outro lado, na importância e situação geográfica dos nossos cursos de água, dos quais alguns haviam sido já objecto de estudos, mais ou menos desenvolvidos, efectuados por entidades particulares. Todas estas circunstâncias fizeram com que, para abastecimento da rede eléctrica nacional, três zonas produtoras de energia se considerassem: a setentrional, apoiada nos rios Douro, Cávado, Paiva e Lima; a central, tendo por base o Tejo, o Zêzere, o Ocreza e o Mondego, e a meridional, a partir do Guadiana e seus afluentes situados em território nacional. Em cada uma delas aprofundaram-se os estudos pela forma e pela ordem julgada mais convenientes ao fim em vista. A longa duração e o carácter total da guerra mundial iniciada em meados de 1939 patenteavam, entretanto, e de forma bem flagrante, a fragilidade do nosso sistema produtor de energia eléctrica, dependente, na sua quase totalidade, da possibilidade de se importar combustível estrangeiro, cuja aquisição se tornava dia a dia mais difícil. Urgia, por isso, tomar providências eficazes para fazer frente à situação, que tinha ainda a agravá-la a circunstância de estarem as mais importantes centrais de serviço público com a sua capacidade de produção quase esgotada. Foi nestas condições que, para tal fim, e uma vez elaborados os planos gerais relativos aos aproveitamentos do Cávado e do Zêzere, e verificado que o Guadiana não apresentava perspectivas tão brilhantes como as que à primeira vista se supuseram, decidiu o grande estadista e malogrado Ministro das Obras Públicas e Comunicações que foi o engenheiro Duarte Pacheco que se realizassem no seu gabinete e sob a sua presidência, a partir de meados de 1943, numerosas e sucessivas reuniões em que tomaram parte os dirigentes e alguns engenheiros chefes dos serviços hidráulicos e da Junta de Electrificação Nacional, nessa altura ainda integrada no Ministério das Obras Públicas e Comunicações, e nas quais foi estudado, em pormenor e nos seus diversos aspectos, o problema da formação de duas empresas para, com a participação do Estado nos seus capitais, iniciarem, no mais curto espaço de tempo possível, a construção dos primeiros escalões dos aproveitamentos hidroeléctricos do Zêzere e do sistema Cávado-Rabagão, já nessa altura com os respectivos anteprojectos elaborados. O acidente que em Novembro desse ano, tão trágica como prematuramente, roubou a vida ao grande Ministro não consentiu, porém, que a ideia fosse nessa altura materializada. Por decreto de 23 de Fevereiro de 1944 transitaram para o Ministério da Economia, onde passaram a constituir uma Direcção Geral (em substituição da Junta de Electrificação Nacional, extinta na mesma data), os serviços eléctricos da até então Direcção Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos.
(Continua)
(Parte C de …)
15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (100)
(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – GRANDES APROVEITAMENTOS HIDROELÉCTRICOS – Abel Mário de Noronha Oliveira e Andrade – Presidente da Comissão de Fiscalização das Obras dos Grandes Aproveitamentos Hidroeléctricos) Consultar todos os textos »»
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