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PORTOS DO DOURO E LEIXÕES
Precisamente no mesmo local onde, na tarde de 4 de Janeiro de 1879, veio encalhar e naufragar o vapor Olga, de 468 toneladas, a que a imprensa do tempo chamava «o grande vapor inglês Olga», passa agora o Pátria para entrar na doca n.º 1 de Leixões. A ideia da construção deste porto é muito antiga, pois já no tempo de D. João V, um século depois, mandava-a incluir nos programas do Governo¹,
¹(Carta de D. Pedro V a José Jorge Loureiro, datada de 26 de Junho de 1856):
[… Há outro ponto que alguma atenção merece e que no anno de 1857 deve entrar no programa do Governo. É a maneira de animar o commercio marítimo do Porto. Tenho a profunda convicção de que tudo quanto se gaste com as obras da barra do Porto é em pura perda. ………………………………………………………………………………………………………... Que resta fazer? Sem dúvida alguma, construir um porto artificial sobre a costa e posteriormente liga-lo com o porto por meio de um canal, o que eu não aconselharia, ou então uma via ferrea. Esta ideia é do coronal Folque e minha há muito tempo; mas foi necessário que viesse Sir John Rennie perfilha-la e faze-la valer como sua para se começar a crer n’ella…]
mas só viria a ter execução trinta anos mais tarde, com o trabalho de homens dos mais notáveis da engenharia portuguesa e com um esforço financeiro verdadeiramente extraordinário em época de escassos orçamentos públicos. A costa em Leixões é singularmente ingrata para obras deste natureza. Não há ali uma baía, um cabo, qualquer acidente geográfico em que possa tomar-se apoio para tornar mais fácil e mais barata a criação de um porto de abrigo. Entre os portos de Vigo e de Lisboa, obras maravilhosas da natureza, o de Leixões, inteiramente construído pelo homem e conquistado ao mar numa costa sem resguardo, sujeita a temporais violentíssimos, aparece como dos trabalhos mais notáveis e ousados da engenharia hidráulica. Por isso tomou lugar de relevo na literatura da especialidade, tão admirado como o foram as pontes metálicas do Douro e outras, não muitas, obras públicas de envergadura desse tempo, as quais, embora custem caro e saiam fora da escala normal das realizações, são recebidas pela Nação com geral simpatia desde que a sua utilidade esteja patente. Todavia, essa obra notável ficou incompleta. O abrigo não era suficiente durante os grandes temporais e, por outro lado, não se tirou proveito do que existia e do mais que se podia conseguir completando-a, para constituir o porto comercial que teria libertado o comércio marítimo do norte do País da asfixia a que o condenavam as dificuldades naturais, praticamente irremovíveis, do porto do Douro. Não faltaram estudos técnicos e económicos para a realização destes dois objectivos fundamentais, de que dependia a valorização do porto; estudos feitos por homens cujo mérito ninguém contesta. Não faltaram também iniciativas brilhantes e até grandiosas, como a da criação da Companhia das Docas e Caminhos de Ferro Peninsulares, para a construção e exploração do porto comercial com base no projecto Nogueira Soares (1888) e, mais tarde, no de Adolfo Loureiro e Santos Viegas (1908); mas faltou a continuidade no esforço, por doença de que a Nação enfermou durante tantos anos que chegou a julgar-se mal sem remédio.
(Continua)
(Parte XCVI de …)
15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (096)
(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – PORTOS DO DOURO E LEIXÕES – Henrique Schreck – Director de Exploração dos Portos do Douro e Leixões) Consultar todos os textos »»
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