30 de outubro de 2024   
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A construção e reparação dos navios no porto de Lisboa durante este período é também obra de certo vulto a que se deve prestar atenção. E também não é indiferente o que se fez em matéria de salvamentos de navios, em circunstâncias difíceis, com o auxílio da aparelhagem naval do porto.
Impossível é condensar nestas páginas tudo o que respeita à obra nele realizada durante o período de 1932 a 1947. Por isso lembro aos estudiosos e aos curiosos que se interessam pela vida do nosso primeiro porto que o visitem e que leiam os relatórios anuais da Administração Geral do Porto de Lisboa.
A visita dar-lhes-á uma noção objectiva da grandeza , importância e desenvolvimento do porto.
A leitura far-lhes-á conhecer o seu progresso nos aspectos financeiro, orçamental, administrativo e económico, permitindo-lhes formar uma ideia clara sobre a evolução, durante o período aqui considerado, do movimento anual de fundos, do esforço financeiro, da receita orçamental, das aplicações orçamentais, em material, das receitas portuárias, do desenvolvimento material do porto, dos resultados líquidos anuais dos serviços terrestres e marítimos, dos lucros líquidos anuais de gerência, das taxas de rendimento líquido anual do património do porto, do seu movimento marítimo e de mercadorias, etc.
Porto destinado a servir Portugal, as colónias, o Brasil, a Espanha e o resto do Mundo, haverá, para que ele possa corresponder a este quíntuplo objectivo: nacional, colonial, brasílico, hispânico e internacional, que torná-lo apto para o desempenho das três funções económicas: regional, comercial e industrial. Para tanto forçoso é fazer nele as obras de que precisa e aparelhá-lo convenientemente com os órgãos necessários para o exercício destas funções.
Um primeiro passo dado neste sentido é o plano de melhoramentos de 1946, atrás referido e em obra já.
Executado integralmente este plano, o património do porto, hoje computado em 1.250.000 contos, subirá para 2.000.000 de contos, e poderemos então esperar que nele se criem mercados: mercados de produtos originários das nossas colónias; mercados de produtos originários do Brasil. E mais: poderemos esperar ver desenvolver-se o comércio de trânsito entre Portugal e Espanha e o nosso comércio em geral com ela e com as outras nações estrangeiras. A construção de novos estaleiros navais, em especial de novas docas secas, e a criação de zonas francas completarão o quadro.
Com a execução de todos os melhoramentos citados a importância do porto de Lisboa subirá de ponto. Com eles beneficiará largamente o comércio marítimo e ganhará a estética da cidade, permitindo ao mesmo passo uma lógica distribuição e arrumação de navios, passageiros e carga, o que hoje, por deficiências várias, impossível é conseguir-se de forma satisfatória.
Teremos então zonas distintas: industrial, de combustíveis líquidos, de combustíveis sólidos, de carga geral, de carga colonial, de peixe, etc.
A doca de Alcântara virá a constituir, com os terrenos e cais que a limitam, um grande entreposto colonial, em tudo digno do nosso Império.
Entre o terreiro do Paço e o Cais do Sodré poderão acostar grandes transatlânticos e grande unidades militares que visitam Portugal, por grandes que sejam os seus calados.
Na margem esquerda constituir-se-á, a par da doca militar, uma destinada ao comércio.
É inegavelmente um grande passo este que o plano de melhoramentos em execução faz dar ao porto de Lisboa.
E, nesta ânsia febril de fazer mais e melhor, tenhamos a esperança de ver em breve nele estabelecidas zonas francas, as quais serão novas fontes de riqueza para o País.
Nesta época de maravilhosa actividade e de realidades em que hoje vivemos em Portugal, não e demais que se alimente aquela esperança.

Salvador de Sá Nogueira
Administrador Geral e Presidente do Conselho
da Administração do Porto de Lisboa


(Parte XCV de …)


15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (095)

(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – PORTO DE LISBOA – Salvador de Sá Nogueira – Administrador Geral e Presidente do Conselho de Administração do Porto de Lisboa)

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