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BASE NAVAL DE LISBOA
O período de perturbação e confusão política que, no País, se seguiu à primeira grande guerra mundial e as dificuldades económicas que, geradas por ela, subsistiram por alguns anos, mais ou menos, em toda a parte, haviam levado a marinha de guerra a um estado de penúria tal que bem se justificava o epíteto de «zero naval» com que os próprios oficiais da briosa corporação, com infinita mágoa e dolorosa ironia, designavam o seu potencial. Não podia o Governo, empenhado, como vinha estando desde 1926, numa obra de verdadeiro resgate nacional, descurar tão deplorável situação, que enchia de tristeza não só o pessoal da marinha, como todo o povo português, habituado a olhar com particular desvelo e carinho a armada nacional e a ver nela uma força sempre pronta para os mais largos empreendimentos e para as maiores audácias, como o comprovara, mais uma vez, o glorioso feito, então recente, de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, os quais, em frágil avião – tão frágil que hoje, ao lado das modernas aeronaves transoceânicas, se nos afigura simples instrumento de recreio para amadores do ar –, atravessaram, pela primeira vez, enchendo de pasmo o Mundo, o Atlântico Sul, sem outros recursos que não fossem os da sua indómita coragem e do seu proficiente saber, para levar ao Brasil – a mais formosa jóia do nosso esforço atlântico – as saudações e o abraço fraterno de Portugal. E assim, consciente da gloriosa tradição marítima da Nação, cujas naus fizeram a sua grandeza e abriram ao Mundo os caminhos da civilização moderna; dos destinos imperiais do País, talhados pela geografia de um conjunto de valiosos territórios dispersos pelo Mundo; da necessidade de criar uma marinha que pudesse ser, além de instrumento de defesa da Nação e de suas comunicações marítimas o elo de ligação do continente com os outros territórios o Império e os numerosos núcleos de portugueses espalhados pela orbe, em terras estrangeiras – encara de frente o problema e lança (decreto n.º 18.633, de 1930) o programa de ressurgimento da marinha de guerra. Recebe-o com alvoroçada alegria a nação inteira; exulta de contentamento e entusiasmo o pessoal da armada, que logo procura, numa azáfama, pôr-se a par das novas aquisições da ciência, no especializado campo da moderna técnica naval. Três anos apenas decorridos começam a entrar no Tejo as novas unidades. Chegam, esbeltos, os «avisos» para as demoradas comissões coloniais; os velozes contratorpedeiros, de elegante silhueta verdadeiros galgos do mar –; surgem os submarinos, airosos. O Tejo anima-se; o velho e desabitado quadro dos navios de guerra, fronteiro à Praça do Comércio, povoa-se; acorre o povo de Lisboa, radiante, aos miradouros da cidade para contemplar o milagre! Dispunha a Nação, finalmente, de um primeiro núcleo de unidades navais, em nada inferiores à melhores, do seu tipo, das grandes marinhas estrangeiras. (Continua)
(Parte LXXIII de …)
15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (073)
(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – BASE NAVAL DE LISBOA – Joaquim de Sousa Uva – Capitão de Fragata – Presidente da Comissão de Obras da Base Naval de Lisboa) Consultar todos os textos »»
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