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A partir deste edifício, e transposto o serviço da portaria, instalado junto à estrada nacional Mira-Figueira, estabeleceu-se numa linha normal, linha assexuada, orientada de nascente para poente, e que separa as mulheres, colocadas a norte, dos homens, situados a sul. Cada um destes sectores compreende três casas para trabalhadores, com a lotação de 25 doentes por casa, destinadas a doentes válidos com capacidade para qualquer ocupação, pois se reputa a ergoterapia indispensável à vida e ao tratamento do leproso; um asilo para 90 doentes, destinado a inválidos, estropiados, mutilados e convalescentes. Espalhados pela Quinta, mas incrustados na massa do arvoredo existente, encontram-se cinco núcleos familiares, para famílias leprosas, cada um constituído por 16 habitações para marido, mulher e um ou dois filhos de sexo diferente. Cada núcleo dispõe ainda de uma casa para o maioral, ou seja o doente que dirige a vida do núcleo e que mantém sob a sua vigilância e responsabilidade as alfaias agrícolas privativas. Entre as suas instalações existe também um amplo salão de estar, recreio com telefonia e outros meios de distracção a utilizar pelos doentes respectivos. Nas proximidades encontram-se implantados os edifícios que comportam serviços comuns – a capela, com um rico altar, mas dispondo de duas salas, a nascente e a poente, uma para homens e outra para mulheres, e finalmente a cozinha e a lavandaria. A traça exterior dos pavilhões, a sua orgânica interior, a sua implantação, a sua coordenação, se não constituem obra impecável, representam, dentro das verbas orçamentais que tiveram de ser respeitadas, e em face das dificuldades que a guerra trouxe à construção – máximas durante o período em que trabalhámos –, um esforço digno de registo. Afoitamente se afirma que não era possível fazer mais nem melhor. ------------------------------------------------------------------------------------------------- Tem beleza exterior, tem interiores acolhedores, com esmerado arranjo, embora com a maior modéstia; adivinha-se em todos os seus pormenores a preocupação de cuidar com amor e a alma doente dos pobres lázaros, cuja vida é uma fonte perene de angústia e de amarguras sem par. O Hospital-Colónia Rovisco Pais foi concebido, na verdade, de maneira a não ser uma penitenciária, um depósito, um armazém de doentes, mas sim um estabelecimento de vida activa, que, de maneira dinâmica, cuide da saúde dos pobres enfermos, tratando-lhes do corpo e do espírito, e onde a lei há-de ser o coração, e a regra a disciplina e o trabalho. (Continua)
(Parte LXIII de …)
15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (063)
(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – LEPROSARIA NACIONAL ROVISCO PAIS – Bissaia Barreto – Presidente da Comissão de Obras da Leprosaria Nacional Rovisco Pais) Consultar todos os textos »»
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