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Quer dizer: o que era eventual e função de meios mais ou menos adequados aos objectivos, e portanto de rendimento útil de precário, a maior parte das vezes preparado á custa de esforços consideráveis e com prejuízo de outras actividades ou sectores de administração, passou a constituir objecto de estudo cuidado, e a obra a realizar-se segundo normas fixas e com pessoal habilitado e responsável. Desapareceu da administração municipal a obra hesitante, para dar lugar aos estudos de conjunto que melhor servem o interesse geral na realização do que lhe é indispensável. Alguns dos trabalhos expostos constituem sérias soluções de problemas de que, durante muito tempo, o Município não cuidou e que, mais tarde , preocuparam a Administração, sem resultado prático e apesar de muito interessar à população vê-los resolvidos. Por exemplo: a cobertura do caneiro de Alcântara, de cujo interesse técnico mal se apercebe de quem hoje percorre a artéria que sobre o colector se está construindo – a Avenida de Ceuta, de tão grande importância na circulação geral da cidade; a transposição do mesmo vale de Alcântara por viaduto, que facilitou a expansão da cidade para ocidente; a salubrização de certa zona da Baixa, atingida pela remodelação, já em curso, indispensável à resolução do problema da circulação; a construção de grupos escolares; a construção e remodelação de parques e jardins; a construção de balneários e piscinas; a extensa rede de arruamentos, dentro de um plano geral de urbanização; a construção de um frigorífico; a construção do novo matadouro Municipal, etc. Tudo isto, afinal, veio a realizar-se ou está em curso, como o exigiam as necessidades de uma cidade moderna; e nesse facto incontroverso não se sabe que mais apreciar: se a louvável continuidade do labor municipal, se a competência técnica dos seus serviços, se o salutar exemplo de boa cooperação com o Estado. Estamos em que isto tudo que se vê é, em primeiro lugar e antes de outra coisa, fruto nacional de uma política nacional sem par, que deu dignidade à Administração e pôs em ordem os serviços públicos. Mas mal se apercebe do volume de trabalho realizado ou em curso de realização quem apenas confiar na leitura deste enunciado genérico dos mais importantes problemas. É preciso sistematizar de outra forma as obras realizadas para que se possa aferir da sua extensão e conhecer o elevado grau em que elas contribuíram para o progresso da cidade. ------------------------------------------------------------------------------------------------ Os bairros de casas económicas desmontáveis e para famílias pobres são já em grande número: da Madre de Deus, da Encarnação, da Calçada dos Mestres, de Caselas, do Alto da Ajuda, da Quinta de Calçada, da Boavista, da Quinta das Furnas, do Caramão da Ajuda, da Quinta do Jacinto e de Alvalade – essa nova cidade em pleno desenvolvimento na zona a sul da Avenida Alferes Malheiro. Tenho também de fazer referência às grandes remodelações determinadas pelas necessidades de trânsito nas Avenidas Almirante Reis, Pedro Álvares Cabral e Fontes Pereira de Melo, Rua Braamcamp, Praças do Império e de D. Afonso de Albuquerque, etc.; a construção dos jardins do largo de S. Bento, da Rua da Imprensa, de Santo António dos Capuchos, da Praça do Império, da Encosta da Ajuda e do Engenheiro Amorim; dos viadutos do Arco do Carvalhão, do Areeiro, de Beirolas, de S. Sebastião da Pedreira e da Calçada de Arroios, dos balneários de Alcântara e do Alto da Serafina , e dos grupos escolares de Santo Amaro, da Rua Actor Vale, da Praça do Ultramar e do sítio de Alvalade, etc. ----------------------------------------------------------------------------------------------- Não se pretendeu dar nestas páginas mais do que uma ligeira síntese das linhas de actividade municipal nos últimos anos e ligar, com as palavras que acabamos de escrever, a nossa responsabilidade ao que se possa ter feito de bom ou de mau neste período de tão intenso trabalho. Se esta se tem mostrado pesada no exercício das funções. É fácil de assumir no momento em que se apresenta ao País, em exposição de trabalhos, o resultado dos esforços realizados pelo Município durante os últimos anos, que correspondem a benefícios evidentes para a cidade e melhoria de condições de vida para a sua população. A administração de uma cidade extensa e populosa nunca é perfeita. Há sempre que remediar o imprevisto, suportar o inevitável. A elasticidade da administração de qualquer grande município raramente se mostra apta a atender as inúmeras necessidades da população, especialmente nos períodos de vida intensa como o que vimos atravessando. À medida que as actividades se desenvolvem, multiplicam-se desproporcionalmente as necessidades que elas criam. O mesmo é dizer que as grandes obras não custam apenas o seu preço aparente. A elas correspondem despesas e trabalhos complementares que lhes estão inerentes e de que o público só mais tarde ou nunca se apercebe. Por outro lado, a vida tem seus direitos, e nada mais variado e por vezes de solução mais complexa do que as necessidades da vida de uma população numerosa, cuja satisfação cumpre aos Municípios atender. Os trabalhos expostos, pois, não representam mais do que a satisfação de algumas das aspirações e necessidades de Lisboa, que continuarão a aumentar progressivamente à medida que a cidade se for desenvolvendo em energia criadora, implicando, assim, o desenvolvimento correspondente da sua administração. No entanto, é justo afirmar-se: apesar de estarem satisfeitas apenas algumas das suas aspirações e necessidades, Lisboa, nestes últimos vinte anos, transformou-se, engrandeceu-se, alindou-se; e os serviços municipais procuraram, dentro das possibilidades e às vezes até ultrapassando os limites por elas naturalmente traçados, orientar o seu desenvolvimento no sentido de que a cidade tenho o merecido lugar entre as capitais europeias. Disto, suponho, ninguém duvida. Estas palavras, pois, de breve comentário a obras realizadas pelos serviços municipais e de apreço pela dedicação com que têm servido a cidade não disfarçam a certeza do muito que é necessário realizar ainda, apesar da certeza do muito que já se realizou, para que Lisboa possa merecer sempre o conceito popular:
Quem não viu Lisboa…
Álvaro Salvação Barreto Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
(Parte XXIII de …)
15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (023)
(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – Urbanização – Lisboa nos últimos anos – Álvaro Salvação Barreto – Presidente da Câmara Municipal de Lisboa) Consultar todos os textos »»
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