|
..:. TEXTOS
Foram ainda escolhidos para colaborar com as Obras Públicas, por intermédio de vários serviços, outros escultores. António Duarte, que concluiu dois majestosos grupos decorativos para a Cidade Universitária de Coimbra, e Martins Correia, que para o mesmo local concebeu uma estátua, também decorativa, foram ao mesmo encarregados de modelar outras figuras ornamentais para o novo jardim do Campo 28 de Maio, sendo ao primeiro deles entregue a incumbência de delinear a estátua de Camilo, destinada pela Câmara Municipal de Lisboa a uma artéria central. João Fragoso, por seu turno, foi indicado para fazer uma estátua para o interior da gare marítima de Alcântara; e, agora, Barata Feio e Álvaro de Brée esculpiram, propositadamente, para a presente Exposição de Obras Públicas, as estátuas simbólicas da Engenharia e da Arquitectura. ------------------------------------------------------------------------------------------------- Logicamente, as pinturas e as esculturas, como motivos ornamentais das sóbrias edificações deste tempo, não deviam ser senão de carácter moderno, visto fazerem parte harmónica de blocos construídos igualmente com esse justo propósito, embora alguns, por causas de ligação com as tradições nacionais, sejam estilização actualizada de clássicos caracteres que, tendo sido modernos também em seu tempo, puderam, por adaptação e por imposição da sua fisionomia consagrada, ser representativos de uma expressão tão respeitável como modernizável, que a vida presente aceita em homenagem estética à tradição. Toda a obra de arte é documento e crónica de contemporaneidade. Sem essa confissão incondicional de projecção histórica no tempo em que foi concebida e realizada, isto é, de obrigatória modernidade nos ritmos, por todas as razões evolutivas, e algumas, mesmo, de ordem prática, mas principalmente pelas de sensibilidade na criação artística – que é constante no desejo humano –, ela queda errada na afirmação dos progressos, como imitação ou repetição condenada pelas ansiedades espirituais e pelas ordenações do tempo. Este não aceita as obras de arte senão como padrões documentais do que ao passado pertenceu com semelhantes intransigências. ------------------------------------------------------------------------------------------------- Os pintores e escultores, todavia, quando lhes cumpre integrar-se na arquitectura que decoram, devem identificar-se com o estilo daquela, procurando exprimir-se em igual linguagem, para que haja harmonia no conjunto total. Deste modo, é variável aquela colaboração, pelo que cada arquitecto escolhe o camarada auxiliar capas desse sortilégio ou que participe das suas afinidades. Neste princípio colaboracionista cabe aos arquitectos e aos engenheiros de hoje a responsabilidade dos bons resultados. Na obra complementar e decorativa – pictórica e escultórica – das modernas realizações, cujo documentário se patenteia na Exposição das Obras Públicas, tais aparentes e razoáveis adaptações ou reuniões de individualidades artísticas apresentam-se, graças à selecção cuidada de quem dirige as referidas iniciativas para o muito louvável resultado que ora admiramos. Sem o tino e o amor que estes problemas de ordem estética exigem de uma direcção superior não seria possível conseguir-se, em produtos destas variadas personalidades, uma tão certeira realização artística, que, de incontestável, dignifica uma nação. Ao espírito progressivo e empreendedor das Obras Públicas, repetimos, devem os artistas de hoje e, consequentemente, as belas-artes, um excepcional encorajamento que a História registará. (Fim)
Diogo de Macedo Director do Museu Nacional de Arte Contemporânea
(Parte IX de …)
15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (009)
(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – A Pintura e a Escultura nas Obras Públicas – Por Diogo de Macedo) Consultar todos os textos »»
|