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Neste Palácio, porém, as decorações picturais foram numerosas. Existindo ali uma tradição artística com a representação de notáveis pintores do começo deste século, a nova empreitada era de responsabilidade. Não obstou isso a que as Obras Públicas a tomassem, confiadas no talento dos novos artistas, que condignamente corresponderam àquela confiança. Martins Barata pintou dois enormes trípticos decorativos na escadaria com motivos de simbolismo histórico e António Soares, Lino António e Sousa Lopes – que então partira para Roma a estudar os segredos do «fresco» – decoraram igualmente alguns gabinetes desse majestoso edifício, dentro do gosto moderno e sob inspiração de temas nacionais, completando a excelente galeria de arte, quer pode considerar-se existente no referido Palácio, em cujo museu local, recentemente organizado, se glorificam e documentam os melhores nomes dos pintores e escultores portugueses. Nas modernas edificações da Casa da Moeda e do Instituto Nacional de Estatística o pintor Henrique Franco realizou uma obra de apurada mestria, pintada a fresco e a óleo, historiando as relações da moeda entre portugueses em passadas épocas e a vida do povo trabalhador dos nossos dias – ali, numa composição isolada, e aqui, num friso com uma dezena de painéis. No segundo destes edifícios Martinho da Fonseca distribuiu também outras decorações e Abel Manta iluminou a escadaria principal com um simbólico vitral de grande efeito, tal como anteriormente havia realizado noutros bem delineados vitrais por ele executados para o templo dos Jerónimos. Eduardo Malta pintara alguns retratos para aquele mesmo Instituto. Por último, em mais arrojado espírito de decorativismo moderno, Almada Negreiros executou vastíssimas e típicas evocações de Lisboa e interpretações do cancioneiro português na gare marítima de Alcântara e tem já concluídos os cartões para frescos semelhantes a pintar na estação marítima da Rocha do Conde de Óbidos. ----------------------------------------------------------------------------------------- Além destes pintores, muitos outros decoraram pelo País além das salas dos novos edifícios dos correios e telégrafos, sendo os principais Almada Negreiros, Estrela Faria, Júlio Santos, Maria Keil do Amaral, Gustavo de Vasconcelos e Jorge Barradas, em Aveiro, Setúbal, Santarém, Funchal, Caldas da Rainha e Bragança, onde essas festivas notas de arte proclamam os desejos de divulgação de valores que o mesmo Ministério patrocina. Se não fosse a patriótica iniciativa a que aludimos, a maior parte deste punhado de pintores portuguese não teria, por certo, encontrado ensejo para realizar obra de tamanha importância, que fica como padrão do nosso tempo, a contratar com as já consagradas decorações pictóricas dos mestres anteriores – os quais, em preito de justiça, recordamos por relutância ao facciosismo. Embora a escultura se arte menos apreciada pelo vulgo – talvez porque o vulgo das imagens e a sua formal semelhança com a dos homens e estes mesmo perturba –, também neste sector se verifica um misterioso mas incontestável facto de preferências, aliás operado também noutros países e sendo deveras extraordinários o número e a importância das obras realizadas entre nós nesta época de revigoramento nacional. -------------------------------------------------------------------------------------- Por toda esta obra do consagrado estatuário, além de outra de que o Estado o incumbiu, a preferência a que aludimos está provada. Mas outros escultores as Obras Públicas têm premiado, distribuindo-lhes estátuas para quantos recantos urbanos o moderno sentido estético as reclama, não vá julgar-se e dizer-se, portanto, que só um escultor o Estado reconheceu, pois, bem ao contrário, nunca as novas gerações foram tão apressadamente protegidas por ele. Assim, no Palácio da Assembleia Nacional colaboraram Simões de Almeida, Costa Mota (sobrinho), Maximiano Alves, Raúl Xavier e Barata Feio, executando o frontão e quatro estátuas simbólicas para a sua fachada, ficando destinada a Leopoldo de Almeida, o mestre que está esculpindo a estátua de Sidónio Pais, uma outra, que se colocou no jardim que lhe fica anexo, representando O Pensador, e mais as Esfinges e o grupo A Família, para o jardim das Cortes, e os relevos alusivos à pesca e à agricultura, para as sobreportas deste Palácio, obras do seu individual estilo, como as estátuas de D. Afonso Henriques e D. João I, que modelou para os nichos de escadaria da Câmara Municipal de Lisboa. Destes escultores o mais novo, Barata Feio, tem sido encarregado de diversos trabalhos decorativos, desde as estátuas dos tanques da Praça Afonso de Albuquerque, competindo com as de António da Costa, e dois grandes baixos-relevos e duas estátuas com figuras típicas de marítimos, na fachada lateral e no portal principal do edifício da Comissão Reguladora do Comércio de Bacalhau, em Alcântara, até à arrojada alegoria colocada no Aeroporto e à expressiva estátua do sábio Júlio Henriques, para o Jardim Botânico de Coimbra. Este artista está a fazer ainda, para a Cidade Universitária, quatro grandes estátuas: a de Safo – ou da Poesia –, a de Demóstenes – ou da Eloquência –, a de Aristóteles – ou da Ciência – e a de Tucídides – ou da História –, e bem assim as fogosas e românticas estátuas de Garrett, Herculano e Antero, que a Câmara Municipal de Lisboa destina à Avenida da Liberdade, para a acompanharem a de Oliveira Martins, da autoria de Leopoldo de Almeida. Este está executando, por sua vez, com Ernesto Canto da Maia e Álvaro de Brée, quatro estátuas de navegadores portugueses, tantas quantas cada um dos colegas executa, e que irão povoar a projectada praça junto à torre de Belém. Todos estes artistas, de carácter muito distinto, mas orientados por ideologias patrióticas, enriquecerão com espírito moderno aquele terreiro glorioso. (Continua)
(Parte VIII de …)
15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (008)
(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – A Pintura e a Escultura nas Obras Públicas – Por Diogo de Macedo) Consultar todos os textos »»
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