21 de novembro de 2024   
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A Pintura e a Escultura nas Obras Públicas

Nos deveres da justiça humana a imparcialidade é a primacial virtude nos julgamentos; e quem de Arte falar, seja em que lugar for, da mesma virtude deve usar para merecer o respeito moral de quem o escute. Adaptando este princípio, não importa nunca ao depoente a categoria das tribunas para declarar a verdade, porque esta, em si, tem suficiente categoria para escusar as alheias. Quem ninguém, por brios de lealdade, se sirva, nessa missão, da lisonja ou da censura, porque estas encobrem muitas vezes uma traição, inocente ou interesseira, a essa verdade, a qual, pela robustez própria da independência, dispensa muletas de qualquer espécie de origem.
Sendo as obras de arte benefícios de privilégio nos artistas, pela inspiração natural – que poderemos classificar de favor do destino –, elas são também realizações da inteligência, da sabedoria e da sensibilidade dos homens, que utilizam cálculos e técnicas para as resolverem e para lhes imprimirem expressão. Julgá-las é difícil, na ousadia dos críticos, porque equivale a intrometer-se no mistério daquele privilégio, querendo, embora, analisa apenas uma parte dessa obra que pertence ao engenho e à iniciativa dos homens. Só por si, a avaliação desta parte, separada da imposição original por graças de uma fatalidade superior, é tarefa ingrata, mas gostosa, porque é avaliar um conjunto de causas no mérito dos artistas e das atmosferas suas auxiliares. Assim, o homem, ao julgar a obra de arte, deve limitar-se à realização humana, a qual, ao identificar-se no panorama total das actividades em favor da sociedade - que não prescinde do espírito e da beleza –, passa a integrar-se nas obras públicas.
Sob este aspecto, e com o entusiasmo dos reconhecidos, nenhum português pode ignorar e deixar de louvar a obra extraordinária, em número e em qualidade, realizada recentemente no sector de uma dinâmica resolução ministerial, desde que Duarte Pacheco tomou a direcção das Obras Públicas, prosseguida até nossos dias para benefício geral.
Por uma vulgar atrofia orgânica no entendimento, buscada em argumentos de desdenhosos inconformismos peculiares nas exigências desrazoáveis, porventura se erguerão dúvidas, mesmo em frente de tantas provas. Os queixumes, porém, e os libelos dos cronistas e dos críticos de arte do passado, que periodicamente pareciam repetição de um protesto incurável, confirmam, por comparação com quem se vê realizado actualmente, que o progresso tem sido notável e que desnecessário se torna discuti-lo. nunca das feridas se extraíram remédios, mas tão-somente lições e anseios para curas.
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Todos podem verificá-lo, porque estão patentes em interiores e exteriores de edifícios públicos, em exposições monumentais e em vastos recintos de logradouro comum, reformados por deliberação das Obras Públicas. Não esqueçamos a extraordinária exibição de arte e de história que foi a Exposição de Belém, em 1940, de que as Obras Públicas foram igualmente as propulsoras e administradoras e onde a grande maioria dos pintores, escultores e decoradores portugueses deu colaborações e recebeu estímulos.
Daquelas iniciativas, particularmente e com júbilo, nos ocupamos nestas rápidas linhas. Se nem todos os pintores portugueses e de mérito reconhecido têm sido encorajados por tão recente empresa, o certo é que muitos deles, não citando as dezenas dos que foram chamados a colaborar com ostros Ministérios e servindo fins idênticos, toparam excelentes oportunidades para realizar obras de sua total invenção que honram o presente ciclo histórico. Afora aqueles que na citada Exposição de Belém – e muitos foram – executaram obra avultada, mas de efémera duração, como estava previsto, destacaremos, por exemplo, os nomes de dois consagrados mestres já falecidos a quem os mesmos serviços encarregaram de grandes obras para decorações no Palácio da Assembleia Nacional: Carlos Reis, que executou um simbólico quadro para a sala das sessões da Câmara Corporativa, e Sousa Lopes, que foi o autor dos desenhos e cartões dos importantes painéis históricos do salão nobre do mesmo edifício, pintados a fresco, depois da morte do seu inventor, por Domingos Rebelo e Joaquim Rebocho.
(Continua)

(Parte VII de …)


15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (007)

(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – A Pintura e a Escultura nas Obras Públicas – por Diogo de Macedo)

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