19 de abril de 2024   
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Descrita assim, a traços largos, a orgânica da Exposição, alguma coisa ocorre dizer quanto ao seu significado. Em primeiro lugar, a realização de uma obra como a que neste certâmen se documenta impõe ou revela a existência de um conjunto de requisitos capazes de lhe criar a atmosfera propícia: ordem nas ruas e nos espíritos; disciplina financeira, servindo de base à colheita dos avultados fundos requeridos; alto sentido criador dos dirigentes; ideia de conjunto sempre dominante; senso crítico na seriação das obras, dada a impossibilidade de a todas acudir ao mesmo tempo; necessidade de tirar partido, ao máximo, dos limitados recursos do País em material e pessoal; técnica capaz de apreender, estudar e pôr em prática as ideias dos governantes, etc.
Outra conclusão que ressalta, desde logo, do exame dos documentos expostos é a grande difusão, pelo País, dos melhoramentos levados a cabo. Os sulcos das rodovias, novas ou restauradas, desde a auto-estrada até ao mais ínfimo caminho vicinal, e os traçados dos novos meios de comunicação de toda a espécie, a toda a parte – às cidades como às vilas e às mais modestas aldeias, às praias como às altas montanhas –, foram levar e tornar patentes os benéficos efeitos desta era de progresso. Não há, praticamente, local algum do País onde não tenha chegado, de maneira directa ou indirecta, o influxo de um melhoramento realizado nestes últimos quinze anos. Quanto mais não seja, um simples marco fontanário. Desfez-se, assim, a lenda de que Portugal era Lisboa e pouco mais, generalizando-se a todos os portugueses o proveito da obra para que todos dão, afinal, o seu contributo financeiro, os mais modestos, por vezes, com pesado sacrifício.
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E note.se que não era fácil a tarefa. Lá fora qualquer técnico da mesma categoria encontra sempre, no decurso da sua carreira, ocasião para mais de uma vez se ocupar do mesmo assunto. Mas entre nós não sucede assim. Em Portugal, não pode haver, por assim dizer, especialistas. Uma grande gare marítima, uma ponte suspensa de vão apreciável, um importante museu, um viaduto audaciosamente lançado sobre o espaço a vencer, um grande edifício público, um estádio digno desse nome, uma auto-estrada, uma grande barragem e tantas obras mais são caso isolado na vida dos nossos técnicos. Não seria, portanto, de admirar que para resolver tais problemas se apelasse para profissionais estrangeiros, visto escassearem entre nós os conhecimentos que só a experiência pode, por vezes, proporcionar. E, no entanto, tal não foi preciso. Uma vontade de ferro a comandar, umas tantas missões enviadas ao estrangeiro, um grande apego à profissão e ao estudo, acrescidos de um desejo veemente de não fazer má figura, produziram o quase milagre que nos documentos desta Exposição se patenteia. E note-se ainda que quanto se fez não constitui mera cópia do que lá fora se tem feito, antes revela tendência feliz de adaptação ao caso português, ânsia de criar obra nacional para o ambiente nacional.
Embora no desempenho da tarefa cometida à Comissão a que tenho a honra de presidir haja sido preocupação constante interpretar fielmente as intenções e as directivas do Governo, nem por isso a insuficiência de requisitos, por parte de quem a dirige, e a fragilidade de tudo quanto é humano deixaram de exercer a sua acção. E, assim, entre algumas coisas excelentes que se vislumbram numa visita pormenorizada à Exposição, bastantes haverá, porventura, capazes de constituir motivo de justo reparo por parte de quem confiou demasiadamente nos fracos predicados do signatário para um cometimento como este, de natureza tão especial.
O argumento que se lhe invocou para aceitar a incumbência, e a que ele não pôde deixar de se render, converteu-se no objectivo que o norteou desde a primeira hora, sem que jamais lhe faltasse a firme vontade de o atingir. Se o não conseguiu – e não conseguiu com certeza –, releve-lho a memória, que não soube preitear como queria, do estadista excepcional cujo espírito paira ainda sobre quase tudo quanto se exibe na Exposição, constituindo reflexo forte do seu dinamismo e do seu génio criador, manifestados na longa permanência que teve à frente dos destinos do Ministério das Obras Públicas e Comunicações.
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A Sua Excelência o Ministro das Obras Públicas, autor da ideia tão feliz da Exposição e, ao mesmo tempo, o seu mais vivo impulsionador, julgo que, em especial, os engenheiros e os arquitectos devem estar profundamente gratos, pelo ensejo que lhes deu de mostrarem as suas aptidões.
Por mim, como português e como técnico que também me honro de ser, acompanho-os nesse justíssimo sentimento de gratidão.

Eduardo Rodrigues de Carvalho
Presidente da Comissão Executiva da Exposição de Obras Públicas

(Parte IV de …)


15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (004)

(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947)

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