7 de dezembro de 2024   
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«Segui para Évora sem uma esperança, por aí além, no bom êxito da minha missão, visto que achava muito natural que o comandante interino da Divisão me prendesse.
«Foi mesmo a prever esta hipótese que, ao chegar àquela cidade, enquanto me dirigia para o Quartel-General, mandei o meu ajudante percorrer os quartéis da guarnição, onde sabia contar com grandes dedicações, e dizer aos oficiais que se dentro de pouco tempo não estivessem a receber ordens minhas, como comandante da Divisão, era porque tinha sido preso no Quartel-General.
«Aqui tudo se passou da forma mais simples. Recebido, logo que cheguei, pelo coronel Viegas, disse-lhe pura e simplesmente:
«- Meu caro coronel, eu estou aqui para tomar conta, revolucionariamente, da Divisão. Você só tem dois caminhos a seguir: ou me entrega o comando ou prende-me.
«O coronel Viegas, colocado neste dilema, pediu-me algum tempo de espera - o suficiente para reunir os comandos e ouvir a opinião deles. E, amavelmente, convidou-me a assistir à reunião. Disse-lhe que não tinha nada a fazer nela e apenas aguardava as suas deliberações.
«Passado algum tempo apareceu-me o coronel Viegas a dizer que os comandos nada tinham resolvido e iam ouvir os oficiais, sem o que coisa alguma fariam.
«Mais tarde, depois de consultados os oficiais, realizou-se nova reunião dos comandantes a que já assisti, e na qual ficou assente entregarem-me o comando da Divisão. Recordo-me, perfeitamente que o primeiro comandante a declarar-se inteiramente ao meu dispor, afirmando seguir-me fosse para onde fosse, foi o coronel Neves e Castro. Não posso esquecer este procedimento. Após este, todos os outros comandantes se afirmaram às minhas ordens, tendo o da G.N.R. observado que não aderia à Revolução mas se conservaria neutral.
«Fiz-lhe ver que o momento não era para semelhantes atitudes, que, pelo contrário, todos deviam tomar posições claras e definidas e, sem ligar ao facto importância de maior, tratei logo de tomar as providências que as circunstâncias exigiam. Primeiro tratei de obter em Évora os carros necessários para o transporte de tropas. O resultado foi maravilhoso: podia contar, creio, com todos.
«Como quer que se afirmasse que havia gente no Barreiro - tropas e marinheiros dispostos a combater-nos – organizei uma coluna com cavalaria e artilharia, mandando pedir infantaria ao general Gomes da Costa. Segui pois, para Vendas Novas, onde no mesmo dia o comandante da Escola Prática de Artilharia, coronel Bilstein de Menezes, tinha impedido com energia e decisão que um golpe de mão dirigido de Lisboa lhe levasse as peças, e aí nos concentrámos, depois de cortar as comunicações ferroviárias e telegráficas, dispostos a dar combate ao suposto inimigo que todos julgávamos no Barreiro.»

***

Logo se soube que o general Carmona se encontrava à frente da Divisão de Évora, todo o Sul, pode dizer-se, se pôs às ordens do ilustre militar. E começaram as adesões: Mafra, o Algarve com as suas várias guarnições, Castelo Branco, Setúbal, etc…
Ao mesmo tempo começou a fazer-se no Entroncamento, por ordem de Gomes da Costa, a concentração de tropas. Para ali se dirigiram o coronel Mouzinho de Albuquerque, comandante da Escola Prática de Cavalaria de Torres Novas, que assumiu o comando do destacamento, e tenentes-coronéis Raul Esteves e Passos e Sousa.
No Norte, Gomes da Costa, a quem constantemente chegavam adesões, marchava sobre o Porto, onde Infantarias 18 e 31 e a Artilharia da Serra do Pilar desde o início da Revolução se haviam manifestado a favor da Revolução. Do Porto, Gomes da Costa iniciou a sua marcha sobre Lisboa.

(Parte XXXV de…)


A Arrancada de 28 de MAIO de 1926 (35)

(Fonte: Óscar Paxeco - 1956 – A adesão do Sul e a acção de Carmona)

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Música de fundo: "PILGRIM'S CHORUS", from "TANNHÄUSER OPERA", Author RICHARD WAGNER
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