7 de dezembro de 2024   
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«- A dissolução imediata do Parlamento, que vem exercendo uma acção desmoralizadora sobre os nossos costumes políticos. Eu bem sei que há homens honestos e competentes entre os membros do Parlamento. Mas a maioria é de incompetentes e a obra de descrédito que estão realizando é nefasta para o País e para as instituições republicanas.
«- Acredita que algumas pessoas retiradas da vida pública e que constituem ainda uma esperança, lhe prestem a sua colaboração?
«- E porque não hei-de acreditar? Não é um serviço pessoal que peço para mim. Eu não represento nada. Sou apenas o instrumento da fatalidade que veio ajudar a eclosão do Movimento.
«- Quais as reformas de administração que tem em vista?
«- Em primeiro lugar pôr de parte todas as leis feitas com objectivos particulares que defendam apenas interesses de alguns indivíduos, contrariando o interesse geral da Nação. São leis atentatórias da moral que é absolutamente indispensável revogar. Em seguida pôr cobro a todos os escândalos administrativos que se vinham registando há alguns anos a esta parte e cujos responsáveis ficaram impunes.
«- A Presidência da República?
«- É um ponto delicado. O Bernardino Machado, pela atitude que tomou nos últimos tempos, vê-se que perdeu muitas daquelas qualidades brilhantes que fizeram dele, durante muitos anos, uma figura moral digna do nosso respeito. Devo dizer-lhe que tenho uma grande consideração por ele, mas entendo que nesta hora já deve ter compreendido que é tempo de pedir a reforma.
«- E para o substituir?
«- Escolheremos uma pessoa com as qualidades necessárias para desempenhar esse alto cargo.
«- Quem?
«- Não sei. Mas temos ainda alguns homens entre ao quais se pode escolher.
«- E que destino reservam aos políticos?
«- Os políticos continuarão a sua vida particular, com mais segurança e maior garantia de respeito do que tem sucedido até hoje. Esperamos que tenham tempo de se regenerar. É claro que quando falamos em políticos já atribuímos à palavra o sentido pejorativo. São os maus políticos, porque os bons, esses podem continuar – colaborar na governação pública.
«- O que vai passar-se agora, sr. general?
«- Se fosse na guerra eu saberia responder-lhe, mas num caso de revolta interna nunca se sabe o que se vai passar.
«- Parece-lhe inevitável um encontro de tropas?
«- Não posso responder-lhe. Procuraremos evitá-lo. Não tenho interesse algum em fazer guerra contra irmãos.
«- O que me diz sobre a organização da revolta?
«- A organização não era antiga. É certo que o Exército vinha reconhecendo há muito tempo a necessidade de intervir na política, para bem da Nação. Falava-se à boca pequena, no seio das unidades militares, em impor aos políticos um caminho diferente daquele que têm seguido até hoje. Faltava apenas chegar-se a um entendimento geral. A hora desse entendimento soou e nós encontramo-nos aqui dispostos a prosseguir sem hesitações nem defecções, até alcançar a vitória final.
«- O sr. general interveio na preparação?
«- Propriamente na preparação não tive interferência. Várias pessoas se encarregaram da sua organização. E eu fui convidado a assumir o comando na ante-véspera.

As adesões a Gomes da Costa continuavam de todos os pontos do País.
Era a organização de Sinel de Cordes, nunca é demais referi-lo, a funcionar completamente, agora ajudada pelos Correios e Telégrafos nas mãos dos revolucionários que ocuparam a Central, onde o «grupo» do Século, chefiado pelo dr. Trindade Coelho e Carlos de Oliveira, tão grandes serviços prestou à causa da Revolução.
E foram os telegramas forjando adesões, dando conta dum alastramento do Movimento que então ainda não era real. Ao mesmo tempo retardavam-se o mais possível os telegramas governamentais, tomando providências, procurando travar a marcha vitoriosa da Revolução. É evidente que os telegramas que ficavam por transmitir não obtinham resposta, e essa ausência de notícias espalhava o pânico no Governo. No entanto, num contraste arreliante, todos os telegramas captados na Central dando conta de adesões, eram logo, e apressadamente, comunicados ao Presidente do Ministério, sr. António Maria da Silva, que a certa altura se não conteve que não dissesse para Central dos C.T.T.:
- Com que prazer os srs. me estão dando essas notícias…

(Parte XXX de…)


A Arrancada de 28 de MAIO de 1926 (30)

(Fonte: Óscar Paxeco - 1956 – Os fins da Revolução, segundo Mendes Cabeçadas e Gomes da Costa)

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Música de fundo: "PILGRIM'S CHORUS", from "TANNHÄUSER OPERA", Author RICHARD WAGNER
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