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Ao começo da tarde, Gomes da Costa recebia no seu Quartel General, de Braga, o primeiro jornalista, o redactor de O Século, que recolheria para o seu jornal as declarações do grande Cabo de Guerra:
«O nosso intuito - diz então o general - está já bem expresso em algumas proclamações que foram distribuídas pelo País e nomeadamente em Lisboa e Porto. Não nos movem quaisquer fins políticos, Todos nós, os que nos metemos nisto, não temos intenção de ferir ou de defender interesses partidários. Queremos apenas libertar o País duma nefasta influência, nociva a todos os respeitos, que o traz oprimido, entregando a sua governação a gente competente e capaz de fazer aquela obra de reconstrução social que se impõe e que toda a Nação una voce reclamava. «Não há homens honrados e patriotas neste País que não estejam hoje connosco de alma, e coração. O nosso movimento não foi preparado com a simples e estúpida preocupação de assaltar o Poder; simplesmente nos move o desejo veemente de acabar com o estado de coisas nojento e repugnante que há alguns anos se mantém para vergonha deste País, dando-lhe aquelas possibilidades legítimas de ressurgir para a vida e para a civilização.» E acrescentava:
«Temos nós porventura o direito de ver o País desaparecer pouco a pouco, não evidando os nossos melhores esforços no sentido de o salvar de uma derrocada, cujas consequências são difíceis de prever? Não temos nós, porventura, o direito de nos opor com todo o nosso amor pátrio ao descalabro nacional que se avizinha a passos velozes? É-nos lícito por acaso esquecermos os galões que temos nos braços, o juramento de honra que fizemos, não procurando por todos os modos e feitios defender a Pátria contra tudo e contra todos?
«Não! O nosso dever é derramar o sangue e lutar pela Pátria. Não são os estrangeiros que põem a nossa Pátria em cheque, preparando-lhe a ruína. Mas, ainda é pior. São os nacionais, são os mais perigosos, aqueles que lhe desferem punhaladas mais violentas, mais ferozes, mais mortíferas.
«E nós não podemos consentir em tal. Basta por uma vez. A paciência tem limites. O País nada tem, nada possui. Está à beira da miséria. Somos um País de turismo e não temos estradas; temos apreciabilíssimas fontes de receita económica e destruímo-las; vencemos a guerra, e fomos derrotados na paz; temos colónias e não as cultivamos, deixando-as andar ao acaso das ambições de fora; temos possibilidades, mais que nenhum outro povo, de ressurgir financeiramente, e cada dia estamos mais arruinados. E tudo isto porquê? Porque nos não têm governado pessoas competentes, idóneas, capazes de realizar a obra que está por fazer, continuarmos numa situação que todos aceitam no cenobismo, vaidade, ou... desejo de enriquecer.
(Parte XXI de…)
A Arrancada de 28 de MAIO de 1926 (21)
(Fonte: Óscar Paxeco - 1956 – As primeiras declarações do Chefe da Revolução) Consultar todos os textos »»
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