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«- Vamos lá a ver! Não haverá forma de um dos senhores ir ter com o Peres e por boas maneiras, com um certo tacto, é claro, chegar a convencê-lo de que o Movimento não é feito contra ele, que eu não quero melindrá-lo, que nem é meu intento alijá-lo do comando da Divisão, nem sequer fazê-lo sair do Quartel-General? Eu não sei. Mas parece-me que os srs. devem estar contentes com o Peres. Tem aquele feitio, mas é uma boa alma... E, não é pêco. Em França portou-se bem! «Todos os oficiais protestam então a sua simpatia pelo comandante da 8.ª. Rendem todos os elogios à sua bondade. Ninguém tem razão de queixa. E mesmo a sua conduta de há meses, quando o ministro o chamou a Lisboa, fora a mais correcta, fora de amigo... Mas... (*)
(*) Esta referência diz respeito ao seguinte fasto: Em determinado momento o Governo deu por tudo quanto em matéria de conspiração se estava passando em Braga. Então o Ministro da Guerra chamou a Lisboa o general Peres, comandante da Divisão para, mais seguramente saber o que se passava. Quando o general partiu a caminho da capital, os oficiais foram em massa despedir-se dele, numa, expressiva manifestação. No momento da partida do comboio um oficial gritou-lhe: - Meu general, se for preciso vamos lá buscá-lo a Lisboa. O Governo porém, limitou-se a colher informações e a mandar o general novamente para Braga. De regresso à cidade dos Arcebispos e com o pretexto de lhe ter sido concedida, uma honrosa condecoração foi alvo de uma grande e significativa homenagem por parte dos oficiais da Divisão.
«E os oficiais voltaram a entreolhar-se, embaraçados. Subordinados directos do general Peres, era penoso a qualquer deles dirigir-se ao chefe hierárquico para, frente a frente, por mais subtileza e eloquência que pusessem nas palavras, anunciar-lhe que iriam por cima da sua autoridade revoltando-1he as tropas. «Compreendi. Era natural e humano. E por isso, tentado um pouco pela audácia da aventura, resolvi oferecer-me. «- General, se quer, e os oficias aceitam, vou eu! «- Muito bem. Vai você. Está em boas mãos! «Como que descarregados dum peso, os oficiais cercam-me aplaudindo o voluntário que os livrara dum missão que para eles se revestia de especiais melindres. Para mim não tinha nenhuns. «- O que não sei é onde pára o general Peres. Onde é que o poderei desencantar agora? «Alberto Cruz oferece-se logo para me acompanhar. O Quartel-General fica na rua do Souto, no antigo Paço Arquiepiscopal. Mas eu é que já não sei conduzir-me através da cidade. Há nove anos, desde os meus tempos de escolar coimbrão em «tournée» orfeónica, que eu não ponho os pés em Braga. «- Mas eu vou consigo, declara o Alberto Cruz.
(Parte XVI de…)
A Arrancada de 28 de MAIO de 1926 (16)
(Fonte: Óscar Paxeco - 1956 – O primeiro contacto com Braga – o berço da Revolução) Consultar todos os textos »»
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