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«- Major Mendes Norton! «- Capitão Frazão! «- Capitão Pires de Campos! «- Capitão Quadro Flores! «- Capitão Gonçalves da Silva! «- Capitão Carmona! «- Tenente Daniel Braga! «- Tenente-médico Alberto Cruz! «- Capitão José da Luz brito! «- Capitão João Nunes de Sequeira! «Com os olhos a fulgurar de júbilo, Gomes da Costa aperta a mão a um e um. É todo o «comité» revolucionário de Braga que ali está presente. Os oficiais são de Cavalaria II e do 8 e 29 de Infantaria. Nos seus rostos vincados, nas suas pupilas resolutas, as atitudes respirantes de lealdade, de firmeza, há uma expressão de energia que empolga. Basta encará-los de frente, para se ter a certeza de que com estes homens não é preciso falar, não é necessário convencer, é inútil gastar argumentos; estão prontos para tudo, decididos a todas as audácias! E o contraste salta logo, espontâneo, flagrante, ao recordarmos a reunião dessa tarde, no Porto, que levara o general, à saída, num comentário mordaz a discretear sobre virtudes e mais partes da mui nobre e vulnerável «Ordem dos Cágados». Gomes da Costa instala-se no sofá. E fazendo sentar os oficiais à sua roda, começa a dirigir-lhes algumas perguntas, a inquirir das forças com que contam, os projectos que já esboçaram. Está tudo resolvido. Eles previram tudo, combinaram tudo, não têm receio de nada.
«E o major Mendes Norton vai fornecendo pormenores. Defecções não as haverá, porque a guarnição está toda ela comprometida.
«- Os comandantes?
«- Em Cavalaria II, o interino, o major Pereira Coutinho, está connosco. Nas outras unidades os coronéis ainda hesitam, estão a flutuar, mas resolverão o problema duma maneira fácil: não aparecem! «- Bem. E os outros oficiais? Quantos há nos regimentos? «- Em Infantaria 8, quarenta e dois. No 29, quarenta e cinco. Em Cavalaria II, vinte e um. A estas horas encontram-se já todos dentro dos quartéis, à espera de que nós lhe levemos a notícia de que V. Ex.ª já cá está. «- E a Guarda Republicana? Os srs. têm aqui um batalhão? «- É o 6.º Batalhão da Guarda. São dez oficiais, entre eles o dr. Alberto Cruz que ali está presente. «- E qual é o moral da Guarda? «Agora é Alberto Cruz que o informa. Vivo, miúdo, com a sua cabeleira de nefelibata e um ar de «gavroche», irrequieto, as palavras jorram-lhe da boca uma alegria exuberante. «- A Guarda está fixe meu general. Eu tenho preparado aquela gente e estou certo de que toda ela se porá às ordens de V. Ex.ª. Basta dizer que o nosso futuro Governador é da Guarda: o capitão Ribeiro Barbosa. Estão todos connosco! O major Rodrigues Baptista é que está assim, assim… mas não hostiliza - isso garanto a V. Ex.ª. «O ambiente aqueceu. Já não é um interrogatório. É uma troca de impressões em que todos tomam parte. O contentamento transborda todas as fisionomias. Gesticula-se, desabafa-se, conversa-se, e sente-se o orgulho, o alvoroço, a exaltação com que os oficiais depois de longos preparativos, de esperanças, de decepções, vêem chegada finalmente a hora da luta que há-de ser com certeza a hora da vitória. «Lembro então a conveniência de impedir o general Sousa Dias de regressar ao Porto. Ele está no Gerês, é natural que o avisem, que o mandem chamar, que o façam retomar o comando da sua Divisão. E isso seria dum efeito péssimo. Livre da presença do general, o Porto ainda nos podia ser favorável. Com ele à frente era um tropeço. As hesitações aumentariam, demorariam, obrigar-nos-iam a perder um tempo precioso. (Foi então que Gomes da Costa disse: Cheguei, meus amigos, ao máximo da minha carreira. Não posso nem quero ter mais galões. Não quero ser ministro nem nenhum de nós por certo o quer ser. - É precisamente nesses termos e nessa condições que recebemos V. Ex.ª, meu general – declarou em nome de todos o capitão Pires de Campos).
(Parte XII de…)
A Arrancada de 28 de MAIO de 1926 (12)
(Fonte: Óscar Paxeco - 1956 – O primeiro contacto com Braga – o berço da Revolução) Consultar todos os textos »»
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