21 de novembro de 2024   
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Com decisão, a decisão necessária sempre para os grandes cometimentos, logo o tenente Arnedo de acordo com o capitão António Nunes Correia, que comandava o grupo de Sapadores de Caminho de Ferro, de Setúbal, resolveu que fosse este destacamento, secundado pela guarnição do Regimento de Artilharia aquartelado em Brancanes, e onde estava o capitão Ricardo Durão, e parte de Infantaria II, ambos também da cidade do Sado, que iniciasse a Revolução, ficando assim assente que a «arrancada» seria em Setúbal.
E começa aqui, pode dizer-se, um novo capítulo da história da preparação e eclosão do 28 de Maio.
A certa altura, no urdimento do plano revolucionário, teve-se como imprescindível a colaboração da Escola Prática de Artilharia, de Vendas Novas. Então, o tenente Arnedo e o capitão Ricardo Durão estabeleceram a necessária ligação, procurando o major Holbeche de Freitas em serviço na E.P.A. Este oficial aderiu imediatamente, mas manifestou o desejo de que fosse um general a «levantar» a Escola e isto porque a mesma era comandada pelo coronel Fisher, cuja adesão a todos parecia difícil, e por isso imprescindível se tornava que toda a acção, ali, fosse comandada por um oficial de patente superior.
E aqui surgiu, pela primeira vez a necessidade de o Movimento Militar ser chefiado por um general.
Ante a hipótese foi a dificuldade posta de novo à ponderação dos chefes que continuavam presos no Forte da Graça. Estes, vistas as condições e as possibilidades do momento, decidiram-se pela escolha do general Gomes da Costa.
Foi ainda o tenente Arnedo que mediante uma carta de apresentação do general Sinel de Cordes procurou em Lisboa, na Pensão Camões - que de tanto serviria nos trabalhos conspiratórios da preparação revolucionária - o tenente Armando Pinto Correia, ajudante de Gomes da Costa.
Convidado a comandar a Revolução, Gomes da Costa aceitou.
Logo se estabeleceu o plano revolucionário que foi apresentado pelo tenente Arnedo ao general Sinel de Cordes, já então transferido para bordo da «Fragata D. Fernando».
Segundo o mesmo plano, Sapadores de Caminho de Ferro de Setúbal soltariam o grito de revolta, logo secundados pelos do Entroncamento e Santo Tirso, ao mesmo tempo que em Lisboa os oficiais presos por causa, do 18 de Abril seriam libertados e, com os regimentos que haviam tomado parte naquele movimento, iriam para o forte da Ameixoeira, o qual sob o comando do coronel Graça se revoltaria também, a fim de entreter as tropas da guarnição de Lisboa, que porventura resolvessem combater a Revolução, enquanto em Vendas Novas se faria a grande concentração dos efectivos revoltados.
Gomes da Costa, que nesta altura devia encontrar-se em Setúbal, marcharia então com a guarnição desta cidade para Vendas Novas, onde assumiria o comando das tropas de Évora, Estremoz, Elvas, etc.. já ali concentradas, as quais iriam sobre o Setil, Entroncamento e Santarém. Aqui se juntariam outros elementos vindos de vários pontos do País, empreendendo-se desta cidade a marcha sobre Lisboa.
Para que tudo resultasse conforme o plano estabelecido havia-se conseguido aliciar todo o Sul que a certa altura, pode dizer-se, estava totalmente comprometido.
Depois de se contar já com a adesão de muitos oficiais da 4.ª Divisão,- como então se chamava - com sede em Évora, verificou-se que entre os não aliciados se encontrava o respectivo comandante, general António Óscar de Fragoso Carmona, cuja adesão, como é de ver, sobremodo interessava à causa em marcha.
E resolveu-se que, com uma carta do general Sinel de Cordes os tenentes Arnedo e Óscar Ruas fossem a Évora expor ao general Carmona os planos revolucionários.
O futuro Presidente da República ouviu com o maior interesse os enviados do seu amigo, preso na fragata D. Fernando, e logo concordou e anuiu a que Gomes da Costa assumisse o comando das forças revolucionárias. Quanto à sua Divisão, esta concentrar-se-ia onde lhe fosse determinado, desde que para isso ele recebesse a necessária ordem.
Conseguida a adesão, em massa, do Sul do País, desde Setúbal ao Algarve, chegou a marcar-se o dia para o levantamento militar. Nesta data, a fim de acautelar a necessária manutenção das tropas em marcha para Vendas Novas, o tenente Arnedo requisitou para o seu quartel o pão a triplicar.
Quando, porém, tudo estava a postos, o coronel Graça recusou-se a comandar a «arrancada» do forte da Ameixoeira, mercê dos poucos elementos - dizia, - de que dispunha. E não houve mais remédio senão adiar o Movimento.
Continuaram, porém, os trabalhos conspiratórios, tendo em vista a eclosão da Revolução em Setúbal. Mas começou-se, também, a não se obedecer completamente ao plano gizado no forte da Graça. Eram já as várias e inevitáveis intromissões que tantas dificuldades levantariam à preparação do 28 de Maio.
Destarte um dia chegou a Setúbal, de automóvel, o antigo oficial Mesquita de Carvalho que acompanhado dum soldado e transportando vário armamento, ia comunicar ao tenente Arnedo a chegada dentro de horas, à cidade do Sado, do general Gomes da Costa disposto a marchar com a guarnição setubalense sobre Vendas Novas. Era um sábado e, por isso, tinham sido licenciadas muitas Praças, motivo porque a respectiva guarnição estava bastante desfalcada. A «arrancada» tornava-se, portanto, senão impossível, muito Perigosa.

(Parte II de…)


A Arrancada de 28 de MAIO de 1926 (02)

(Fonte: Óscar Paxeco - 1956 - "Quando Setúbal esteve para soltar o grito da «arrancada» - como aparece pela primeira vez o nome do General Gomes da Costa para comandante da Revolução")

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