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Na realidade simples das coisas, a solução é satisfatória se assegura a existência de um governo forte sob estável chefatura do Estado, aceites pela conformidade da massa dos cidadãos quando sentem defendidas as suas liberdades e interesses essenciais. Tal sorte de governo representa a própria essência e fins do poder público; a garantia das liberdades essenciais permite «a tranquilidade na ordem», que significa a paz pública. Podemos aferir, portanto, do valor de uma solução política, mais do que por justificações doutrinárias, por este facto simples mas fundamental: se houvesse progresso na paz. Não é discutível se gozámos de um e da outra em Portugal nos últimos vinte anos. Devemos ter como factos primaciais do nosso tempo os seguintes: a deslocação do poder político internacional por efeito da última guerra; a tendência para se deslocar o centro de gravidade das forças internas, fenómeno provocado em todo o mundo pela ascensão das massas ao bem-estar, à segurança e à actividade política. Não é exacto que todos os regimes se equivalham e também não é seguro que o mais perfeito no domínio da doutrina seja sempre o melhor nas contingências da prática. De uns se diz terem virtualidades peculiares e de outros se sabe exigirem aos cidadãos virtudes cívicas em grau que nem todos os povos atingiram ainda. Pode, porém, afoitamente assegurar-se que a eficiência não é igual em todos nem igual o rendimento do elemento humano. Quando um país encontrou, como Portugal, uma linha conveniente de pensamento e de acção política, assente em segura experiência, é desassisado trocá-los, dando atenção a vozes, aliás dissonantes, que se erguem das ruínas e das divisões da Europa a apregoar sistemas salvadores. Sejamos largos de pensamento e aceitemos as correcções e desenvolvimentos que o regime comporta, sem se negar; intensifiquemos a aplicação dos princípios que só parcialmente têm sido aplicados quanto à organização e representação directa no Estado dos interesses que se movem no seio da Nação; continuemos de braços abertos para a colaboração de todos os que de coração isento desejem apenas trabalhar para o bem comum. Sobretudo, não percamos o ânimo nem a serenidade neste tormentoso mar de paixões e sejamos prudentes. Tempos houve em que os portugueses se dividiam acerca da forma de melhor servir a Pátria; talvez se aproximem tempos em que a grande divisão, o inultrapassável abismo há-de ser entre os que servem a Pátria e os que a negam.
AUTORIDADE E LIBERDADE A Nação contra os partidos; A União Nacional (32)
(Relevância do factor político e a solução portuguesa» — Discurso na inauguração da I Conferência da U. N., em 9 de Novembro — «Discursos», Vol. IV, págs. 247-248, 250-251 e 261-262) – 1946 Consultar todos os textos »»
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