21 de novembro de 2024   
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É erro dizer que as eleições criaram uma oposição ao regime; é mais correcto pensar que a oposição existente pelo precipitado de descontentamentos, fruto da acção governativa, e pela ânsia de renovação do pessoal ou dos princípios sociais e políticos se resolveu a lutar. O que fez da liberdade concedida não vale a pena anotá-lo; neste como noutros casos semelhantes se verificou nada ter aprendido e nada esquecer do muito pouco que tivesse de olvidar.
Nem na febre do combate alguns repararam na contradição entre os seus ataques à falta de liberdade e as posições de onde desferiam os seus golpes — posições criadas, mantidas, prestigiadas e pagas pela longanimidade, a largueza de ânimo, o espírito nacional da actuação do Governo. Outra coisa foi manifesta e é cada vez mais nítida ao nosso espírito: a liberdade em Portugal não se limita nem disciplina a si própria; se, juntamente com a vasta loquacidade permitida, mais largas se houvessem dado no respeitante à acção, a ordem correria o risco de ser subvertida.
Nenhum povo verdadeiramente civilizado pode deixar de garantir nas leis e na realidade os direitos fundamentais da pessoa humana. Em nome deles se fez em grande parte a guerra, mas à sua roda gira um equívoco, que pode deixar um rasto funesto nas instituições europeias. Este deve-se a ter-se admitido, sem maduro exame, como axiomática verdade a tríplice equação: liberdade igual a democracia; democracia igual a parlamentarismo; parlamentarismo igual a oposição — e tornou-se negramente responsável por que em documento oficial as oposições portuguesas tenham acusado de ditadura o regime pelo facto de o Governo não cair perante as Câmaras. Afinal o problema é redutível ao seguinte: o grau e efectividade das liberdades individuais dependem essencialmente de determinada forma de organização do poder? A resposta é francamente negativa na doutrina e na prática, mas os que desejaram furtar-se a discussões incómodas resolveram aqui e além a dificuldade vestindo ou, nem vestindo, crismando à moda as suas instituições. Deus permita que o único mal seja a anarquia do dicionário.
Outro ponto. Não há dúvida de que o Mundo está cheio da palavra «liberdade». Aqui significa independência política, além independência económica; numa parte emancipação e igualdade racial, noutra extinção de privilégios de classe; mais perto, a abolição das monarquias (aliás e pelo menos em potência tão liberais como as repúblicas), mais longe, a própria carência do poder público. Pois, repetida em todas as línguas e reboando sob todos os céus, é certo que a famosa e enganadora deusa não dará o seu nome à nossa época — e aí está a contradição.
Continuo a crer que, para bem dos homens e da sua vida em sociedade, haverá a «autoridade necessária e a liberdade possível»; mas, seja qual for o grau de liberdade política no futuro, já está moribunda no presente a liberdade económica.

AUTORIDADE E LIBERDADE A Nação contra os partidos; A União Nacional (31)

(Ideias falsas e palavras vãs» — Discurso à União Nacional, em 23 de Fevereiro — «Discursos», Vol. IV, págs. 198 e 204-206) – 1946

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Música de fundo: "PILGRIM'S CHORUS", from "TANNHÄUSER OPERA", Author RICHARD WAGNER
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