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Não julgo que a fórmula «Pela Nação através do partido» tenha tido ou possa ter séria aplicação em Portugal. Não só nas crises nacionais mas sempre que a consciência pública sentiu mais fortemente a necessidade de sobrepor às estéreis lutas partidárias os interesses da Nação se procurou fugir ao regime e ao espírito de partido, para, em plano sobranceiro às rivalidades pessoais ou de grupo, se resolverem problemas ou satisfazerem necessidades da colectividade nacional. Que a isso se tenha chegado através de entendimentos ou tréguas parlamentares, da neutralização de certas pastas, de governos de concentração, de governos extrapartidários ou de governos nacionais, o significado é o mesmo, quando se pretende auscultar a virtualidade ou nocividade do espírito partidário no governo do País. Guiados por esta claríssima lição da experiência tentámos erguer-nos ao plano nacional, não só na consideração dos problemas a resolver mas das pessoas e métodos a aplicar. Como outros, podemos dizer: tudo o que é nacional é nosso; tudo o que é nacional pela finalidade e pelo espírito nós o tomamos como programa, como aspiração, como método. Por isso apelamos em espírito de sinceridade para todos os homens, independentemente da sua origem e categoria, do seu credo religioso, de suas preferências de regime, de suas antigas filiações partidárias, para um trabalho de conjunto a bem da Nação. Fiéis a este pensamento, pretendeu-se que a União Nacional não se constituísse em partido. Não só se mantém aberta a todos os homens de boa vontade — a organização é bem uma espécie de voluntariado da política — como não tem interferência na governação pública e não aspira ao recrutamento do funcionalismo ou do pessoal político. Sabe-se que nem mesmo tem sido necessário pertencer aos seus quadros para fazer parte dos mais altos corpos do Estado, do Governo, das Câmaras e da administração pública. Ainda que isso seja causa de alguma fraqueza do organismo político, e até do Estado, entendemos sempre que a cura do partidarismo exigia todos os sacrifícios e merecia bem o esforço de todas as tentativas. Nesta orientação, nada impede que a União Nacional inclua nas listas apresentadas ao sufrágio nomes de pessoas independentes, que por formação mental ou modo de ser não se dispõem a aderir a tais ou tais dos nossos princípios mas podem com vantagem desempenhar os seus deveres de deputados. Nem a esses nem a outros se pede ou pediu nunca em nome da disciplina que dêem o seu voto a qualquer medida ou atitude. O que qualquer partido exige dos seus partidários como regra indispensável de vida e de trabalho, dentro dos mais liberalíssimos e democráticos sistemas, não o exigimos nós. Contentamo-nos com votos livres de consciências esclarecidas pelo estudo dos problemas e pelo amor do seu País. Pelo que respeita ao conjunto das autoridades, aos chefes da administração, aos homens de governo, as coisas passam-se com a estabilidade apenas de qualquer país em ordem e bem governado. Relativamente ao Chefe do Estado, eu considero como o maior favor da Providência que o País tenha compreendido a inapreciável vantagem da sua permanência e lhe tenha imposto expressivamente em plebiscitos sucessivos continuar no exercício das suas altas funções. Quanto ao Chefe do Governo, todos os homens reflectidos podem concluir que o problema só teria interesse se de direito ou de facto se houvesse estabelecido uma diarquia em Portugal. A Providência, que de tantos erros e perigos nos tem livrado, por intermédio da prudência e moderação dos homens, também deste nos livrou. É um dos princípios do regime que fielmente adopto e sigo não haver nunca razão contra o Chefe do Estado, o que significa terem os problemas políticos só um arbitro supremo, a cuja decisão esclarecida todas as forças obedecem.
AUTORIDADE E LIBERDADE A Nação contra os partidos; A União Nacional (30)
(«Votar é um grande dever» — Discurso aos deputados, em 7 de Outubro — «Discursos», Vol. IV, págs. 182-183, 183-184 e 189) – 1945 Consultar todos os textos »»
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