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Temos em primeiro lugar o conflito que chamaremos entre a força e a violência. Não desculpo qualquer fraqueza do Governo na defesa da situação política criada, com o assentimento da Nação, pelo 28 de Maio; tenho sido, até onde chego, absolutamente inflexível contra a desordem, a imoralidade administrativa, o compadrio nacional, o assalto dos interesses ilegítimos, as cumplicidades na protecção e defesa de todos os culpados. Mas tenho sido sempre contra a violência no Governo — quero dizer contra o emprego da força, atrabilariamente, sem limitações da moral e sem a definição de certo estado de legalidade. E tenho desde há sete anos sustentado esta posição, por três razões fundamentais. Primeira: as lições da experiência. Nenhum Governo de violência pôde durar em Portugal e vários terminaram em bem trágicas circunstâncias. À sentimentalidade do povo português — grave defeito para além de certos limites, mas defeito com que há-de contar-se — repugna a violência erigida em sistema de governo, e não tem havido maneira de resistir, em face desse povo, quer ao seu desprezo quer à sua revolta. Segunda razão: nós não temos mesmo possibilidade de nos aguentarmos na violência durante muito tempo, porque, por intervenção dos próprios violentos, as penas não são cumpridas, ao degredo segue-se a repatriação, às demissões as reintegrações nos antigos lugares. Os que entre nós quase pedem a pena de morte são os primeiros, tocados pelo espírito de camaradagem, pelas considerações de ordem familiar, pela predisposição para acreditar no arrependimento e nas promessas de não reincidência, levados a pedir reformas, pensões e amnistias. Só a seguir a 1932 se puderam começar a manter com mais firmeza as deliberações iniciais. Terceira razão: é uma razão de ordem moral. O Governo (ou Assembleia) define os princípios legais, mais ou menos rígidos e apertados conforme as circunstâncias. Mas ele próprio deve conformar-se absolutamente com as regras estabelecidas, aliás não há para os indivíduos e as colectividades respeito pelos seus direitos, e as instituições oscilam à mercê das simpatias, caprichos ou influências pessoais. Até aqui os motivos por que me tenho batido contra a violência pelo regime duma legalidade forte. É este o primeiro conflito ideológico.
AUTORIDADE E LIBERDADE A Nação contra os partidos; A União Nacional (16)
(«O momento político» — Nota oficiosa publicada nos jornais de 20 de Setembro — «Discursos», Vol. II. págs. 70-71) - 1935 Consultar todos os textos »»
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