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Tornou-se evidente que com o sucessivo desaparecimento dos mercados, a diminuição da tonelagem estrangeira ao nosso serviço e a escassez e diminuição da nossa marinha mercante, a economia portuguesa tinha de ser impulsionada em duas direcções: refluir sobre si própria, explorando ao máximo as suas possibilidades, no continente e nas colónias — produzir; tentar manter a estabilidade de condições em nível mais baixo, reduzindo ao mínimo o consumo — poupar. Esta a admirável campanha do Ministério da Economia, cujos termos se completaram mais tarde, acrescentando ser igualmente necessário organizar e distribuir. E o País lançou-se a trabalhar e viver no ambiente destas preocupações. Confesso ter poucas vezes visto ideia tão bem compreendida, tão espontaneamente abraçada e seguida com tanto entusiasmo e carinho. Nós fomos sem dúvida favorecidos, no que respeita aos géneros agrícolas, por este facto real, ainda que literalmente antieconómico, de que boa parte da nossa agricultura não é industrial, ou para ser mais claro, não trabalha para o lucro, produz para viver pobremente e alegremente gastar o excesso de outras rendas. Isto tinha particular importância no momento em que se teria de produzir mais e mesmo mais caro, sem sensível repercussão nos preços do que viesse ao mercado. Mais que paixão, o vício português da terra fez prodígios: aproveitou-se a gleba, quase até ao centímetro, o jardim, a clareira da mata, o valado, o cômoro. E não foi só na agricultura e na pecuária o esforço. Nas indústrias independentes do estrangeiro, sobretudo nas minas à busca de combustível, a produção fez progressos consideráveis, ao mesmo tempo que nos serviços públicos ou privados, em casa e na rua, na vida individual e familiar, aquela divisa se traduzia em restrições voluntárias, no aproveitamento das coisas inúteis, na disciplina dos consumos. — Produzir! Produzir e poupar!
As Riquezas Naturais (003)
(«Defesa económica — Defesa moral — Defesa política» — Ao microfone da Emissora Nacional, em 25 de Junho — «Discursos», Vol. III, págs. 326-327) – 1942 Consultar todos os textos »»
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