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Na base do trabalho está a necessidade fundamental de conservar e de transmitir a vida: na base do trabalho está a vida do trabalhador. Se muitos homens não dispõem para viver de mais nada senão do potencial do seu trabalho, duas conclusões se opõem: uma é que é preciso organizar a economia nacional de modo a terem trabalho os trabalhadores; outra é que o trabalho tem de ser regulado e organizado por forma que o salário permita aos trabalhadores viver. A mais adequada remuneração do trabalho é constituída pelo salário. Pode o trabalhador ser associado à empresa, pode ser interessado nos seus resultados, quer dizer, nos seus lucros, mas os que não têm de que vivam não podem esperar, nem especular, nem deixar de receber; eis porque a forma ideal que deve estar na base das muitas combinações possíveis é o salário suficiente. Tudo o mais é bastante vago, bastante longínquo, bastante abstracto para interessar deveras. Não há limite à elevação do nível de vida de quem trabalha; não há mal algum em que este se eleve cada vez mais, em tanto quanto o comporte o conjunto da economia do País. O salário, por consequência, não tem que ter limite superior, mas pode ser-lhe fixado o limite mínimo, para que não desça além do que é imposto pelas exigências duma vida suficiente e digna. Subamos agora mais alto e ponhamos este problema: a produção que lida com o trabalhador pode ignorar a família? O homem que trabalha não é só; ele vive enquadrado numa sociedade natural, geralmente não a família de que proveio, mas a família que ele constituiu. Quando a produção desconhece a família, começa por convidar ao trabalho os vários membros dela que o possam fornecer — a mulher e os filhos menores, e parece que estes salários suplementares são benefício apreciável contrária é porém a realidade. Quem diz família diz lar; quem diz lar diz atmosfera moral e economia própria — economia mista de consumo e de produção. O trabalho da mulher fora do lar desagrega este, separa os membros da família, torna-os um pouco estranhos uns aos outros. Desaparece a vida em comum, sofre a obra educativa das crianças, diminui o número destas; e com o mau ou impossível funcionamento da economia doméstica, no arranjo da casa, no preparo da alimentação e do vestuário, verifica-se uma perda importante, raro materialmente compensada pelo salário percebido. De vez em quando perde-se de vista a importância dos factores morais no rendimento do trabalho. O excesso da mecânica que aproveita o braço leva a desinteressar-se da disposição interior. Em todo o caso
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AGRUPAMENTOS NATURAIS A Família, os Grupos Profissionais, os Interesses Regionais (02)
(«Conceitos económicos da nova Constituição» — Discurso radiodifundido da U. N., em 16 de Março — «Discursos», Vol. I, págs. 199-200, 200-203 e 203-204) – 1933 Consultar todos os textos »»
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