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Nenhuma nação ou Estado de hoje escapará a uma transformação mais ou menos rápida e profunda das suas instituições; os princípios sob cujo influxo se fará e os processos por que há-de realizar-se é que podem diferir; é fatal que hão-de sofrê-la os que não forem capazes de operá-la. Mais do que nunca o Estado será um pensamento em acção, pelo que se hão-de fatalmente defrontar, mais hoje, mais amanhã, conceitos diversos do homem, de Estado, de nação, de poder, de liberdade, de fins humanos, de riqueza, de interesses espirituais ou morais; e ninguém duvidará de que será tanto mais fácil a luta — e a vitória — quanto mais nítida for a sua oposição. A fraqueza dos regimes liberais para esta grande batalha está essencialmente em que, por imposição da sua própria doutrina — porque também eles a têm — se vêem forçados em muitas circunstâncias a parecer que a não possuem. Sempre para se sustentar têm de se contradizer. Pelos motivos expostos nos convinha a nós ir limpando o terreno de todos os elementos cuja atitude doutrinal não fosse de si defesa suficiente contra a invasão dos novos bárbaros. Com a clareza possível se formulou a doutrina e se foi pondo em execução; pacientemente se tem aguardado que à vista dos resultados, pela meditação e observação dos factos, os melhores espíritos, ligados ou não ao passado, fossem rectificando as suas posições. Muitos o têm feito; outros, por comodidade ou pela força dos hábitos mentais, perplexos mas no fundo preocupados, retiraram-se para a neutralidade ou para a indiferença; uns tantos, sem possibilidade prática de manter o meio-termo, têm sido empurrados para a solidariedade com aqueles em que pressentem maior capacidade de agitação revolucionária. Não vão lá fazer nada, mas é-nos útil que se lhes juntem.
Os Grandes Problemas Nacionais (09)
(«Balanço da obra governativa. Problemas políticos do momento» — Discurso na Câmara Municipal de Lisboa, em 27 de Abril —- «Discursos», Vol. II, págs. 31-33) - 1935 Consultar todos os textos »»
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