7 de dezembro de 2024   
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TRATA-SE de um acontecimento de excepcional significado, que não pode ficar esquecido, nem deixar de ter, no presente trabalho, e destaque que merece.
A muitas pessoas terá passado despercebida a alta significação deste episódio: a entrega oficial e solene do Castelo de S. Jorge à guarda permanente da Legião Portuguesa.
A transcendência do facto ficou, todavia, abundantemente documentada pela presença dos Chefes de Estado e do Governo e de tantas outras altas individualidades da vida nacional, que, propositadamente, quiseram assinar, «in loco», no enquadramento de uma ampla formatura legionária, a acta de entrega da histórica fortaleza — compêndio de muitos séculos de História — aos cuidados e ao zelo da Legião Portuguesa.
Fortaleza da Nação, a partir de 1147, pela integração, na parte sul, no território crescente do reino de Portugal, o Castelo de S. Jorge, antes conhecido por «Cerca Moura», ficou ligado a todos os acontecimentos, que marcaram o nascimento e a consolidação da nossa existência.
Cada pedra das suas é testemunha viva dos oito séculos de epopeia nas lutas de conquista e reconquista, e, mais tarde, das gestas de expansão de Portugal, pelos quatro cantos do Mundo.
Desde a sua tomada aos mouros, em 25 de Outubro de 1147, pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, após uma preparação de assalto, que durou dezassete semanas, o Castelo de S. Jorge, dominando a cidade de Lisboa, teve um papel de primeiro plano na vida nacional.
Acusando as mócegas do tempo e dos acontecimentos, foi dignamente restaurado e reconduzido à sua traça própria pela Direcção Geral dos Monumentos Nacionais, no seguimento do magnífico esforço realizado pela Revolução Nacional na reconquista do nosso património monumental e artístico.
Concluídas as obras, foi entregue à Câmara Municipal, e, por esta, no mesmo acto solene, à guarda da Legião Portuguesa.
A Acta respectiva, por ser longa, não se transcreve; mas transcreve-se, na íntegra, o discurso, então pronunciado, pelo Presidente da Câmara, que é do seguinte teor:
«A cerimónia que aqui nos reúne no ambiente destas vetustas pedras, tem um alto significado; estabelece um marco de separação entre duas épocas que todos nós certamente desejamos ver bem distintas.
Este sítio famoso, berço de tantos actos heróicos com que se forjaram os destinos da nossa nacionalidade; lugar de congeminações de que surgiu um grande império a abraçar o mundo na dilatação da fé cristã à força de feitos épicos, de sacrifícios e de martírios, e na árdua tarefa de espalhar a civilização, tarefa em que os portugueses dessa época foram dos mais esforçados paladinos e pioneiros; este recanto sagrado que deveria ser motivo do respeito e veneração de todos os portugueses, foi pouco a pouco esquecido na memória das gerações e sofreu os maiores vilipêndios dos humanos, em desafio com a acção destruidora do tempo. Permitiu-se que no seu exterior surgisse pouco a pouco um colete de forças, com o deixar crescer indisciplinadamente à sua volta uma mole de casario sem estética, sem nexo, sem qualquer preocupação de respeito pela grandeza da vizinhança, e que terminou por asfixiá-lo e lhe deformar a perspectiva de beleza que deveria ser a sua permanente moldura. No interior, o desrespeito não foi menor. Quem há aqui que não se lembre do que ainda há poucos anos pejava este recinto e se sobrepunha às suas muralhas, amesquinhando-as e desfigurando aquele aspecto vigoroso e altaneiro que hoje tanto nelas admiramos?

(Parte 1)


A Legião Portuguesa (15)

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