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Poucos países têm na sua constituição geográfica, ao mesmo tempo que riquezas inapreciáveis, tantos pontos delicados. As nossas posições do Atlântico, insubstituíveis mas dispersas e materialmente separadas da parte continental, e as nossas colónias numerosas e ricas espalhadas pelas três partes do Mundo, toda a gente vê que impõem administrações honestas, liberdade de movimentos relativamente a estranhos, extrema correcção de processos, nada de dependências financeiras que comprometam ou possam ser pretendentes a compensações em género na ocasião oportuna... Sou dos que não temem por sistema o capital estrangeiro; sou dos que entendem dever ele ter a sua parte na obra de reorganização empreendida, ao lado do capital português repatriado, mas a lisura da nossa administração e o relativo desafogo das nossas finanças é que hão-de sempre conferir-nos o direito de escolha e a oportunidade da intervenção. Não se trata aqui somente de ser honesto por dever, mas de ser honesto também por interesse. No primeiro volume das recentes Memórias do Príncipe de Bülow conta este antigo chanceler do Império Alemão os seus esforços no sentido da divisão e empossamento parcial das colónias portuguesas. A base do trabalho diplomático por que o Imperador Guilherme o felicitara efusivamente parece termo-la nós fornecido e encontro-a nesta curta frase: «Portugal, esse mau pagador, debatia-se numa crise financeira de que estavam sendo vítimas, há alguns anos, a Alemanha e a Inglaterra». Desmoronou-se esta ambição, mas bastou para a fazer surgir e tomar corpo, como séria ameaça, uma crise que nos forçou a reduzir os juros da dívida externa e a procurar dinheiro, para a sanar, nas praças estrangeiras. Passaram-se os anos. Temos feito muitos sacrifícios; trabalhámos; sofremos; impusemo-nos a terapêutica dos que querem salvar a vida e a fazenda; equilibrámos o orçamento; regularizámos as nossas contas; ordenámos a administração; pagámos conscienciosamente as nossas dívidas e os seus encargos; saldámos os empréstimos a curto prazo e substituímo-los por depósitos nos bancos estrangeiros; demos tão sólida base ao nosso crédito que os ‘nossos títulos sobem quando outros estagnam, ou mantêm-se quando outros se despenham; a nossa moeda é aceite a preço fixo por toda a parte e vamos estabilizá-la legalmente só com os nossos recursos; podemos pedir empréstimos como quem propõe negócios, mas não pedimos dinheiro como quem mendiga esmolas. Na segunda edição das Memórias do Príncipe de Bulow a frase que vos citei será ou não riscada pelas imposições da verdade à nobreza e sensibilidade do político e ao escrúpulo do historiador. Pouco importa isso: o mais importante é que toda a política verdadeiramente nacional seja dominada por este princípio que é ao mesmo tempo uma lição dos factos: a ordem e a perfeita correcção dos processos financeiros são, além de condição essencial do nosso ressurgimento, garantia da independência e integridade da Pátria.
A BATALHA DA RESTAURAÇÃO FINANCEIRA DO PAÍS - (12)
(«O interesse nacional na política da Ditadura» — Discurso na manifestação da União Nacional, em 17 de Maio — «Discursos», Vol. I, págs. 122-124) - 1931 Consultar todos os textos »»
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