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Como V. Exa. sabem, pelos decretos já publicados, nós subordinamos tudo, neste momento, à necessidade do equilíbrio das contas públicas. Ora nunca houve possibilidade de equilibrar duas somas senão diminuindo uma e aumentando a outra, ou operando sobre ambas ao mesmo tempo. Parece que há já quem se ria dizendo: assim haveria muito quem resolvesse o problema, e renasce mais uma vez a eterna questão do ovo de Colombo. Esse equilíbrio conquista-se com aumentos de receitas e reduções de despesas; exige pois sacrifícios. É, como já tive ocasião de dizer, falando aos Srs. comandantes, uma política impopular. Podem e devem fazer-se esses sacrifícios? Eu reputo-os imprescindíveis; direi mais, eles têm de fazer-se: a nós só compete escolher a forma de fazê-los. Há, por assim dizer, um equilíbrio natural em todas as coisas, e por isso também nas contas públicas. Quando existe o deficit, procura-se o equilíbrio recorrendo ao crédito; quando este se não pode utilizar, emite-se moeda, desvalorizando-a. Mas dessa desvalorização resultam sacrifícios. De modo que toda a questão está em pedir sacrifícios claros, que podem salvar-nos, ou disfarçados, que custam o mesmo e em geral não resolvem nada. Mas não tenhamos ilusões; as reduções de serviços e despesas importam restrições na vida privada, sofrimentos, portanto. Teremos de sofrer em vencimentos diminuídos, em aumentos de impostos, em carestia de vida. Sacrifícios, e grandes, temos nós já feito até hoje, e infelizmente perdidos para a nossa salvação; façamo-los agora com finalidade definida, integrados em plano de conjunto, e serão sacrifícios salutares. É a ascensão dolorosa dum calvário. Repito: é a ascensão dolorosa dum calvário. No cimo podem morrer os homens, mas redimem-se as pátrias!
A BATALHA DA RESTAURAÇÃO FINANCEIRA DO PAÍS - (02)
(«Os problemas nacionais e a ordem da sua solução» — Discurso aos oficiais da Guarnição Militar de Lisboa, em 9 de Junho — «Discursos» ), Vol. 1, págs. 17-18 e 18) - 1928 Consultar todos os textos »»
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