3 de novembro de 2024   
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(Continuação)

IX - Primeira de duas parte

Quanto ao turismo de permanência, os estudos económicos de que já se dispõe, baseados nas preferências das correntes turísticas, nas realidades do clima e na taxa mínima de ocupação anual exigível para a viabilidade económica dos empreendimentos hoteleiros, apontam, seguramente, para a promoção imediata de dois grandes centros turísticos: o Algarve e a Madeira.
O Algarve, com as suas praias de areia fina e recorte sugestivo, com as suas águas tépidas e diáfanas, com o seu mar calmo e a sua forte luminosidade, é o grande cartaz que temos de erguer perante a procura do turismo mundial que tem, como uma das suas linhas de preferência mais marcada, a atracção pelas praias e estâncias de clima mediterrânico.
Ora o clima do Algarve só tem paralelo na Andaluzia e no sul da Itália. Sob o ponto de vista higrométrico é semelhante a Cannes, Málaga, Menton e San Remo e mais favorável que Veneza, onde o grau de humidade é maior. No Inverno a temperatura média é de 12º,24 em Faro e 12º em Lagos, enquanto em Hyères é de 8º,5, em Nice de 7º,8, em Cannes de 10º e em Biarritz de 8º,1. A sua uniformidade térmica é considerada superior à da própria Riviera francesa.
Pela sua estrutura, pela disposição das estradas, pela densidade populacional da zona costeira, pelas possibilidades de fomento e disciplina do abastecimento e, sobretudo, pela incomparável extensão da estação climática favorável, o Algarve constitui, no que respeita a elementos naturais, a região turística ,mais privilegiada do País.
Acresce que o Algarve se situa, precisamente, na linha natural de expansão da corrente turística que se movimenta desde a Riviera francesa e, caminhando pelo costa da península, só tem de vencer a depressão da zona de Huelva, para logo o atingir. Ora o esforço de valorização turística já em curso nessa zona e a melhoria das condições de travessia do Guadiana tornam inadiável a necessidade de apetrechar o Algarve para a hora iminente do seu surto turístico.
A próxima abertura ao tráfego do Aeroporto de Faro - com o movimento directo de voos de origem de países estrangeiros e a rápida ligação dos que entram em Portugal por Lisboa - permite encarar, como de interesse - mútuo para Portugal e a Espanha, ,a construção da ponte sobre o Guadiana que já começou a ser objecto de estudo e conversações pelos Serviços competentes.
Com estas duas grandes vias de penetração - o Aeroporto de Faro e a ponte internacional - e com a beneficiação dos traçados nas ligações por estrada com a capital não parece que ao fomento turístico do Algarve se deparem dificuldades insolúveis.
Mas a mais grave de todas é, sem dúvida, a do seu apetrechamento hoteleiro.
O Algarve dispõe, actualmente, de 32 unidades hoteleiras com um total de 890 quartos e, neste momento, encontram-se em vias de construção quatro hotéis e duas estalagens e têm projecto aprovado pelos Serviços de Turismo mais vinte unidades. As 26 unidades, em construção ou projectadas, têm uma capacidade total de mais 2025 quartos.
Mas o ritmo da construção dos empreendimentos previstos não poderá ,evitar a crise de alojamento previsível para a época da próxima entrada em exploração do Aeroporto de Faro. De modo que terá de admitir-se o recurso a formas mais rápidas de suscitar, em condições aceiráveis. um aumento razoável da capacidade de alojamento.
Para além dos alojamentos há que fomentar criteriosamente os correspondentes apoios de atracção turística: casinos, equipamentos balnear e de desportos náuticos, golf, folclore , circuitos turísticos, valorização dos vinhos e da cozinha regional, melhoria dos parques de campismo.
No Algarve, como em qualquer região de fomento turístico intensivo, terá de curar-se que o desenvolvimento turístico se processe de forma regrada e economicamente útil. A disciplina de distribuição do equipamento turístico terá de fazer-se por forma a não perturbar as actividades agrícolas e pecuárias e a indústria da pesca, antes constituindo sempre o máximo incentivo possível às suas produções.
A planificação do equipamento fará definir graus de interesse em zonas a que poderemos chamar de interesse turístico, em que convirá orientar a iniciativa privada impedindo empreendimentos inadequados, e zonas prioritárias de desenvolvimento turístico, em que haverá que incentivar de modo especial as próprias iniciativas.
A defesa do cunho original da arquitectura e da decoração regionais, a vigilância eficaz sobre os efeitos sociais do afluxo turístico, a preparação cuidada dos meios de abastecimento terão de estar presentes nas preocupações dos órgãos nacionais e dos órgãos locais de turismo.
A firme correcção da natural tendência para a especulação com os terrenos, a que se procura prover com medida fiscal consagrada na recente Lei de Meios, terá. de completar-se e nesse rumo, se formulará, por certo, a política mais conveniente quanto à eventual utilização de terrenos do domínio público marítimo ou outros do património do Estado ou das Autarquias.

(Continua)


Turismo - Política de Turismo (09)

Política de Turismo – Comunicação do subsecretário de Estado da Presidência do Conselho, Dr. Paulo Rodrigues, ao Conselho Nacional de Turismo, em 7-I-1964.

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