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(Continuação)
VIII
Como já disse, a premência das circunstâncias impõe que, do plano de desenvolvimento turístico para o próximo quinquénio, se destaque desde já um primeiro esquema de acção para o ano que começa. Sem poder dispor, ainda, dos resultados completos de estudos que se processam numa linha de rumo só recentemente estruturada, temos de nos contentar com que esse esquema seja equilibrado e justo, pondere as possibilidades reais de acção e as harmonize com as necessidades. A relevância económica do turismo, que em capítulo anterior se referiu, não obsta a que, na fase actual do nosso crescimento económico, a utilização dos recursos disponíveis para o fomento turístico tenha de submeter-se a uma escala de prioridades, segundo a qual haverá que dar preferência decidida aos investimentos mais rentáveis, embora sem deixar de acarinhar, na medida do possível, todas as iniciativas. Mas a verdade é que não se trata, hoje, de favorecer ou desfavorecer esta ou aquela zona, de reconhecer ou negar méritos absolutos de atracção turística a cada região. Trata-se de equacionar em mérito relativo as possibilidades de todas elas e, atentos os recursos disponíveis, optar pelo caminho mais conforme com o interesse do turismo nacional no seu conjunto. E na medida em que se reconheça que só poderemos ganhar a batalha do turismo português concentrando esforços e recursos, eu creio que todos os interesses regionais se disporão a investir na luta alguma pequena renúncia para desse investimento se facultar à Nação um benefício cuja falta, se não se ganhar agora, pode comprometer, para o futuro, as próprias perspectivas regionais de valorização turística. No esquema de acção para 1964 terão de considerar-se, nomeadamente, duas linhas de actuação, correspondendo uma ao turismo de passagem e outra ao turismo de permanência. Quanto à primeira temos de considerar, nomeadamente, a região de Lisboa com o equipamento hoteleiro de que dispõe na própria cidade e na zona do Estoril e que permite à capital portuguesa desempenhar a função que os peritos de turismo lhe assinalam de vir a ser, ao mesmo tempo, foco polarizador das correntes turísticas exteriores e seu dinamizador para os centros internos e, ainda, grande cidade-sede de congressos e reuniões internacionais. Lisboa, fronteira maior do turismo em Portugal, tem de ser o fulcro do nosso movimento turístico de passagem e de curta estação que noutros dois conjuntos hoteleiros se deverá principalmente apoiar: o do Porto e das praias do Norte, e o do Centro, na região de Coimbra e do Buçaco. Um trabalho, que parece bom orientado, de propaganda no estrangeiro e o reforço das ligações com agências idóneas tende a assegurar um índice mais favorável de utilização do equipamento já considerável das aludidas zonas em que se devem fomentar, sobretudo, as iniciativas destinadas a suscitar motivos de atracção turística que alarguem, antecipando-a para a Primavera e prolongando-a pelo Outono, a curta estação estival. Os resultados da experiência que em 1963 constituíam as Festas da Páscoa devem ter-se em conta na programação, a que já se procede, do calendário turístico destinado a alargar o período de alta estação. Este alargamento do período de maior frequência turística permitirá, ainda, atenuar os efeitos económicos resultantes do desfasamento entre o súbito incremento da procura que decorre do carácter sazonal do turismo e o crescimento mais lento e mais estável da produção e da comercialização dos bens em cujo consumo influi. O fomento de atracções turísticas permanentes, consideradas complemento indispensável do equipamento hoteleiro e praticamente inexistentes em algumas zonas, terá de ser, também, rapidamente considerado. O renascimento das estações termais como fulcro de interesse turístico, que hoje se verifica, impõe que se atenda ao equipamento e melhoria de exploração das nossas termas que, logo depois das praias da costa atlântica e ao lado das cidades e vilas brancas do Alentejo, constituem valor inestimável do nosso património turístico. Os itinerários históricos e monumentais, continuamente valorizados pela obra de protecção aos monumentos e pela recuperação de vilas antigas, oferecem, para algumas correntes turísticas, interesse a fomentar. A exploração turística das matas, a caça, a pesca e o campismo que certas sugestões válidas da iniciativa privada mostram começarem a ser objecto, de interesse para o fomento turístico – têm de integrar-se na visão de conjunto da campanha do turismo para 1964 e, nesse sentido, se procede, agora, aos trabalhos complementares dos estudos de que se dispõe e dos resultados das pequenas experiências já feitas. A beneficiação e o acréscimo dos apoios de estrada nos roteiros principais, em que avulta a rede das Pousadas, terá de ser contemplada ao mesmo tempo que a melhoria possível das vias e meios de comunicação. Sem falar, por ora, das perspectivas que a ponte sobre o Tejo abrirá ao turismo, aponte-se, entre os benefícios recentes ou próximos, a Ponte da Arrábida e o segundo troço da auto-estrada do norte, a melhoria do itinerário Lisboa-Porto, a Ponte de Varela com o acesso directo à Pousada da Ria, as beneficiações nas estações fronteiriças, as obras do porto do Funchal e os Aeroportos do Funchal e de Faro. O movimento turístico já verificado pelos Aeroportos de Lisboa, Porto e Porto Santo e a próxima entrada em funcionamento dos de Faro e do Funchal, permitindo aproveitar a crescente incidência dos transportes aéreos na deslocação das correntes turísticas, têm despertado interesse em se conhecer, quanto à sua utilização, o modo de obter, na prática, o maior benefício possível para o incremento do turismo português. Nomeadamente quanto aos transportes não regulares, de tanto interesse para o turismo, não se alterou a política segundo a qual têm sido autorizados todos os pedidos de voos de fretamento, salvo raríssimas excepções que datam de há mais de dois anos. A melhoria possível dos sistemas de licenciamento – de modo a permitir a planificação de voos com a antecedência indispensável, acautelar os legítimos interesses das linhas regulares e aproveitar o seu valioso contributo para o nosso desenvolvimento turístico, e a assegurar a coordenação da frequência dos transportes com as disponibilidades de meios de alojamento – é, neste momento, objecto de estudo dos serviços competentes da Direcção-Geral da Aeronáutica Civil e do S. N. I. A terminar este capítulo sobre o turismo de passagem direi que, para certa classe de turistas, os nossos itinerários turísticos não podem esquecer as ilhas maravilhosas dos Açores, onde a progressiva melhoria das comunicações completará um quadro de altos atractivos cuja exploração se tem de fomentar.
(Continua)
Turismo - Política de Turismo (08)
Política de Turismo – Comunicação do subsecretário de Estado da Presidência do Conselho, Dr. Paulo Rodrigues, ao Conselho Nacional de Turismo, em 7-I-1964. Consultar todos os textos »»
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