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(Continuação)
III
A estruturação, a que se procede, dum plano de desenvolvimento turístico para os próximos anos – de que a urgência de acção fará destacar um esboço de trabalho para o ano que começa – tem de assentar em sertãs previsões que partem, por um lado, do conjunto de valores turísticos naturais, do equipamento existente e das perspectivas de investimento e, por outro, da previsão da procura que as iniciativas programadas virão a satisfazer. É sabido que as correntes turísticas, para além da complexa influência psicológica que a publicidade anima e alguns imponderáveis influenciam e a que podemos chamar a modo turística, dependem de factores definidos entre os quais avultam a conjuntura económica nos países de origem e a distância e o grau de facilidade de comunicações entre este e o mercado de destino; o ambiente de paz social e de simpatia humana do país visitado; o nível comparativo dos preços e o grau de saturação do mercado turístico nos países concorrentes. À luz das previsões que com alguma segurança se possam erguer quanto ao comportamento dos dados referidos e quanto aos frutos duma consequente acção publicitária, terá de analisar-se a rentabilidade dos investimentos e a composição relativa dos vários tipos de empreendimentos. Estão em curso inquéritos e estudos estatísticos destinados a alicerçar tecnicamente as orientações mais seguras. Mas os elementos de que já se dispõe permitem orientar-nos, com alguma viabilidade, nos rumos imediatos de acção. O número total de turistas que visitaram Portugal foi em 1953 de 153 mil; em 1958 de 264 mil e deve atingir, quanto a 1963, os 520 mil. A nossa taxa média de crescimento anual entre 1953-1962 foi cerca de 12%. Noutros países da Europa e em relação a igual período, a taxa de crescimento foi a seguinte:
Espanha 20% Jugoslávia 19% Grécia 16% Itália e Inglaterra 11% França, Suíça, Alemanha e Holanda 7%
Esta evolução aponta desde logo uma preferência pelos países da Europa meridional e uma taxa de progressão mais alta nos países onde o turismo não estava, anteriormente, muito desenvolvido. Acresce que os aumentos mais notáveis resultam, em boa parte, da influência do país fronteiro (os franceses em Espanha; os alemães na Áustria; os alemães e italianos, na Jugoslávia). Sucede que sendo a Espanha a nossa única fronteira terrestre na Europa, possuindo ela atractivos turísticos do mesmo tipo dos nossos, e tendo já o intercâmbio com o país vizinho e amigo, que por todos os meios cumpre fortalecer, expressão turística apreciável em volume, esta cresce em ritmo mais lento do que o turismo doutras fontes. Destas considerações decorre que, sendo embora modestos os números absolutos, a evolução do turismo estrangeiro em Portugal é mais favorável do que às vezes se julga pois, descontada em cada mercado a influência do contingente do país fronteiriço, a nossa taxa de crescimento em 1954-1962 já é apenas inferior à Espanha em 3% e à Jugoslávia em 1%. Acresce que o turismo fronteiriço é, normalmente, o que apresenta índice mais baixo de rendimento por turista e que, em relação a certos grupos muito significativos de turistas, as nossas médias de crescimento foram das mais altas. Concretamente quanto aos turistas ingleses enquanto, no mesmo período, a taxa anual de crescimento foi de 3,2% na França, de 5,9% na Suíça, 9,2% na Jugoslávia e de 4,3% na Turquia, foi em Portugal de 16,2%, só a Espanha nos excedendo com 19,2%. Quanto aos turistas americanos as médias de crescimento anual foram de 7,8% na França, 6% na Suíça, 10,4% na Jugoslávia e, entre os países europeus, só a Turquia com 20,9%, e a Espanha, com 14,5%, excedem a taxa portuguesa que foi de 12,9%. Parece admissível prever um ritmo mais rápido de crescimento anual para o próximo período quer porque a maior duração de férias e o melhor nível dos rendimentos incitam a roteiros turísticos mais longos, que tendem a abranger-nos; quer pela incidência crescente, entre os motivos de atracção turística, de elementos naturais de que amplamente dispomos; quer pela tendência para a saturação de certos mercados. Do que dito fica; da análise dos elementos de que se dispõem, quanto à duração média de turistas estrangeiros; da evolução previsível do comportamento das várias corrente turística; da evolução verificada da capacidade hoteleira e do seu grau de utilização e da análise estacional dessa utilização decorrem certas linhas de orientação que devem ter-se em conta, quer quanto à localização dos empreendimentos hoteleiros e afins, quer quanto à distribuição dos empreendimentos por categorias e classes. O estudos dos custos de construção e de exploração que se começam a processar em termos industriais e para cuja progressiva melhoria se deve facultar – e se faculta – a conveniente assistência técnica, tudo deve contribuir para estruturarmos o turismo português como uma indústria.
(Continua)
Turismo - Política de Turismo (03)
Política de Turismo – Comunicação do subsecretário de Estado da Presidência do Conselho, Dr. Paulo Rodrigues, ao Conselho Nacional de Turismo, em 7-I-1964. Consultar todos os textos »»
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