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A política económica das nossas colónias não chegava só para fazer uma conferência. É assunto para um tratado. Tenho de confinar-me, como para todo o resto, no apuramento do mais saliente: quer nas tendências, quer nos correctivos. A primeira constatação, neste sector, é a de que se está trabalhando com intensidade crescente nos nossos domínios. Com dobrado merecimento: saiu-se apenas há dez anos de uma crise gravíssima. Falta, portanto, ainda, um pouco de tudo: estudos, técnica, experiência, métodos, élite, ambiente. Mas está a trabalhar-se, um pouco por toda a parte, e em sectores vários: estradas, caminhos de ferro, farolagem, portos, aviação, estações radiotelegráficas, liceus, hospitais. Nunca talvez se estivesse fazendo tanto. Há mesmo, feitas ou em curso, algumas obras notáveis: a farolagem de Angola, a melhor de África; o apetrechamento do porto do Lobito; as obras do porto da Beira; a ampliação com mais 300 metros de cais acostável do porto de Lourenço Marques, onde temos gastos, em tempos idos, mais de 2 milhões de libras-ouro; os 900 metros de cais em Luanda que devem estar prontos dentro de três anos; o que já se fez para a navegação aérea em Moçambique; o que está a adiantar-se em Angola; as vinte e uma estações radiotelegráficas de Angola e as dezassete de Moçambique; os primeiros cem quilómetros da linha do Tete já arrematada; a nova ponte do Incomati; os dois futuros grandes liceus o de Lourenço Marques que deve ser o maior, o de Luanda que deve ser o mais belo do país; as duas grandes escolas técnicas de Huíla, a agro-pecuária e a de artes e ofícios; o hospital de Lourenço Marques, criação modelar, e onde beneficiações repetidas têm assegurado progressos incessantes. E o que estamos dizendo não é um inventário, são exemplos. Mas o progresso não se produziu só em quantidade. Esta poderia implicar dispersão. Deu-se em qualidade. Duas rubricas, no activo, precisamente, o atestam. Uma foi a elaboração dos dois já referidos planos de fomento de Angola e Moçambique, datados de 1938, quer dizer, com quatro anos de execução, dotados cada um com 300 mil contos. Deve-se-lhes grande parte do que foi feito. Tudo indica que este grande ensaio faça escola. A outra rubrica favorável é a importância dos estudos que estão a fazer-se no Ultramar como base prévia dos programas de acção. Tenho um pouco a impressão de que o país mal conhece esses estudos, em condenável alheamento do que é seu. Pois há no capítulo novidades de monta, acusando espírito novo e vontade de proceder com acerto. O futuro porto de Nacala, por exemplo, cujo desenhos V. Exas., talvez vissem à entrada, foi estudado por uma missão que elaborou o mais notável trabalho de conjunto das colónias portuguesas. Mas há muito mais, ultimamente. Missões geográficas, hidrográficas, magnéticas, botânicas, geológico-minerais, antropológicas, fitogeográficas – têm percorrido as colónias. Numa delas morreu, por sinal, ao duplo serviço do Império e ada ciência, o professor Witnich Carriço. Mas não têm sido só nacionais.
(Continua)
Lugar e destino de Portugal: a Nau e a Tormenta (10)
Lugar e destino de Portugal: a Nau e a Tormenta – conferência feita na Sala de Portugal da Sociedade de Geografia de Lisboa, em 9 de Maio de 1942. Na sessão solene de encerramento da «Semana Colonial» - Fernando Emygdio da Silva, prof. da Faculdade de Direito Consultar todos os textos »»
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