Sendo assim, temos de concluir que os construtores de uma determinada «imagem» não estão de modo algum interessados em a alterar, e se a imagem é falsa, nada os levará a aceitar a verdade. E é lógico que assim seja, porque o que os comanda não é nem a preocupação de justiça, nem o idealismo, mas sim o interesse. Se a preocupação fosse a justiça ou o idealismo, como explicar que se tivessem conformado com o destino triste dos patriotas húngaros e checoslovacos, com o cativeiro de Goa, com o drama de Biafra, com a perseguição dos cristãos no Sudão? Como não sofrer com as vítimas inocentes do terrorismo que alastra por todo o mundo? Como conciliá-lo com o propósito de impedir uma obra, como a de Cabora-Bassa, que só poderá beneficiar as populações que se afirma desejar proteger? Na verdade, o que está em jogo é um complexo de interesses ideológicos e estratégicos, de prestígio e de influência, de riqueza e poder. São os detentores desses interesses que aproveitam os ideais ingénuos de alguns e a emotividade de outros; que exploram sentimentos raciais e divergências religiosas; que utilizam a tribuna fácil de certas organizações internacionais mais ou menos desacreditadas; que comandam grupos de pressão ideológicos ou mercenários; que se aliam à desordem para, do caos, retirar proveito. Para melhor captar os mal-informados conceberam-se métodos de actuação baseados no critério da «dupla medida» (o «double-standard» da língua inglesa) que permitem, ao mesmo tempo, condenar os inimigos e absolver os amigos em situações idênticas. Em verdade, montou-se toda uma máquina de deturpação e mentira.

Imagem Exterior e Realidade Nacional (14)

Conferência pronunciada pelo embaixador de Portugal no Brasil, Dr. José Manuel Fragoso, na Escola Superior de Guerra, em 21 de Outubro de 1970
Idealismo ou interesse, págs. 28 e 29