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Nada mais diria sobre o debate em redor dos conceitos, não fora saber-se que, na ONU, ao mesmo tempo que a política de descriminação racial é justamente condenada na tese e na prática, se nega a Portugal a legitimidade da sua conhecida política de harmonia entre as raças e se considera que a integração étnica – que é o ponto principal da filosofia nacional – não passa de uma utopia- por mais de uma vez tem sido escutada, no decurso dos debates, a pergunta surpreendente de saber «como pode um africano de raça negra ou um asiática ser um português?». A resposta tem sido dada pelos próprios, e um exemplo elucidativo podia fornecê-lo as autoridades indianas se quisessem explicar os motivos por que perseguem e punem de todas maneiras aquelas dezenas de milhares de goeses que habitam a União Indiana e que desejam conservar a sua nacionalidade portuguesa; ou então os motivos que têm levado número crescente de goeses a acorrer à embaixada do Brasil em Nova Deli – que por obséquio do Governo brasileiro ali representa os interesses de Portugal – a requerer o seu passaporte português para se acolherem à Mãe-Pátria. A resposta é dada, também, por quantos têm visitado as nossas províncias de África e entrevistado as populações locais, em inteira liberdade; e entre esses poderia nomear diversos jornalistas, políticos e homens de empresa brasileiros. A resposta é dada por aqueles jovens angolanos, guineenses e moçambicanos, há anos aliciados para estudarem em países do outro lado da cortina de ferro e que, no regresso aliás difícil ao mundo livre, protestaram por não terem encontrado nesses países representantes consulares portugueses que os protegessem e amparassem. A resposta é dada por aquele punhado de emigrantes de Cabo Verde que, em Nova Iorque, criaram a «Sociedade para perpetuação da herança portuguesa» e com quem eu próprio, quando Cônsul-Geral naquela cidade, convivi com tão proveitosa intimidade. A resposta é dada pelos goeses e descendentes de goeses há várias gerações estabelecidos na Etiópia e que, quando há anos ali me desloquei integrado numa delegação portuguesa à reunião da Comissão Económica para a África, nos receberam no seu clube com os acordes do Hino nacional, à sombra da Bandeira portuguesa e nos saudaram encenando um auto de Gil Vicente. A resposta, por último, é dada por aqueles naturais das nossas províncias da Ásia e da África que têm desempenhado os mais altos cargos da Administração Pública e nos próprios órgãos de soberania: Ministros, Embaixadores, Governadores, Presidentes da Assembleia Nacional, Juízes, etc.
Imagem Exterior e Realidade Nacional (07)
Conferência pronunciada pelo embaixador de Portugal no Brasil, Dr. José Manuel Fragoso, na Escola Superior de Guerra, em 21 de Outubro de 1970 Integração racial, págs. 17 e 18
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