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..:. TEXTOS
É este o quarto ano consecutivo em que me é dada a honra de falar perante os cursos da Escola Superior de Guerra sobre Portugal, suas realizações e seus problemas. Tarefa de responsabilidade em função do alto nível intelectual do auditório, tem ela sido facilitada pela benevolência e compreensão dos que me têm escutado – e por essas manifestações de deferência me confesso sensibilizado e grato. Ao general Augusto Fragoso, que em todas oportunidades me acolheu com palavras de carinho pelo meu país, às quais quis juntar outras de favor a meu respeito, dirijo as mais cordiais saudações, extensíveis aos responsáveis pela organização deste curso e a todos que aqui se encontram para um diálogo que desejo seja franco e de utilidade, como espero tenha acontecido no passado. Em 1967 falei circunstanciadamente da política interna portuguesa abordando ao tempo, sem reservas, o problema – que para muitos se afigurava ameaçador – da longa permanência do Prof. Oliveira Salazar e do futuro político do País quando a marcha inexorável do tempo forçasse a sua substituição. Mal sabíamos que, um ano depois, essa eventualidade dolorosa viria a verificar-se: mas ficou então registada a confiança com que os portugueses olhavam o futuro das instituições criadas pela Constituição de 1933, três anos passados é reconfortante equiparar a realidade à previsão. Como não poderia deixar de acontecer, discorri também, nessa palestra de 1967, acerca do problema ultramarino português, em função dos ataques físicos e verbais que desde 1961 vêm sendo dirigidos contra Portugal aduzindo os argumentos, de facto e de direito, em que baseamos a nossa defesa. Por último abordei o tema, sempre actual e sempre fascinante, da construção da Comunidade Luso-Brasileira, obra de gerações passadas, presentes e vindouras. No ano seguinte coube-me falar perante os estagiários do curso de 1968 no momento preciso em que se desenrolava, em Portugal, a passagem do Governo do presidente Salazar para o Presidente Marcelo Caetano. Nada me levava então, como felizmente não leva hoje, a alterar o que havia dito no ano anterior sobre a estabilidade do regime político português, limitando-me a fazer uma breve actualização dos dados mais significativos para situar o crescimento da economia portuguesa numa época ainda de recessão da economia europeia. Dediquei, por consequência, a quase totalidade da minha palestra a questões de política externa, analisando as posições de Portugal em relação à Europa. À África, ao Ocidente em Geral e, por fim, ao binómio Brasil-Portugal. Em 1969, de novo convidado para vir a esta casa, por acordo com os orientadores do curso circunscrevi a minha conferência a um tema preciso que àqueles se afigurou ser o que concitava o interesse especial dos estagiários: Portugal e a descolonização na África. Descrevi então, em pormenor, as teses em confronto: o ideal português da criação de sociedades multirracionais, que caracteriza o nosso objectivo de, num quadro tradicional de unidade política, subordinar a evolução dos povos a uma transformação sociológica tendente à democracia racial; do outro lado, a tese da ONU que considera a autodeterminação sinónimo de independência. Nesse contexto analisámos não apenas os princípios, mas também as vicissitudes da luta contra o terrorismo, os resultados alcançados neste plano bem como no do progresso das populações e, por fim, o valor estratégico das posições portuguesas na África. Nas três palestras precedentes foram tratados, portanto, os aspectos mais relevantes para uma análise da situação portuguesa por parte dos componentes dos cursos, tendo o período habitualmente reservado a debate proporcionado o ensejo de completar informações ou de esclarecer dúvidas. Deste modo não se me afigurou fácil a escolha do tema da minha palestra de hoje. Na verdade, havendo a Escola Superior de Guerra editado os respectivos textos, que sei serem do vosso conhecimento, incorreria em escusadas repetições, pois que se quanto às teses não é de esperar alterações – e do nosso lado, pelo menos, não as haverá – também quanto aos acontecimentos o pouco tempo decorrido não justificaria mais do que uma ou outra actualização. Daí que me tenha proposta falar-vos hoje dos mesmos problemas, mas sob um ângulo de visão diferente, que o título que vos sugiro dispensa explicar: imagem exterior e realidade nacional.
Imagem Exterior e Realidade Nacional (01)
Conferência pronunciada pelo embaixador de Portugal no Brasil, Dr. José Manuel Fragoso, na Escola Superior de Guerra, em 21 de Outubro de 1970 Imagem Exterior e Realidade Nacional, págs. 3 a 5
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