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Nós somos uma modesta Nação que não se atribui os índices altos de riqueza, da produção, ou dos níveis de vida, mas tem em dia as suas contas, mantém livre o comércio internacional e os câmbios com todas as nações, segura o valor da moeda e sustenta com suficiência a sua população. Não pretende impor as suas concepções ou instituições políticas, não levanta dificuldades à vida alheia, não perturba a paz e colabora com lealdade nos organismos internacionais. Nenhum Estado tem contra nós reivindicações, queixas fundamentadas, pretensões a que por justiça devamos satisfação. Trabalhamos duramente e procuramos progredir o mais possível, sem explorarmos abusivamente auxílios alheios, para elevar o nosso povo e sem prejuízo da solidariedade que nos une aos demais. Qualquer estrangeiro nos pode visitar, percorrer livremente o território, ver, indagar, informar-se, fazer por si mesmo uma ideia correcta da nossa vida. E, se ele próprio é insuspeito e livre, não devia deixar contaminar as suas conclusões dos ódios políticos que correm pelas valetas de todos os países, e nem recorrer a eles, muito menos albergá-los e considerá-los expressões objectivas da vida alheia. Por então essas campanhas que a olho nu qualquer vê destituídas de sinceridade e de verdade? É ingénua esta maneira de pensar nos tempos de hoje e no que importa ao caso português. Na base da nossa vida colectiva, tal como a compreendemos, a organizamos e pretendemos viver, existe um forte substracto ideológico de que ela dimana, que a explica e sustém, e sustém mesmo em larga medida a própria realidade geográfica que é a Nação Portuguesa. Tocamos assim o ponto essencial à compreensão do assunto: este abraço mortal que se desenha e mais e mais se aperta em relação ao Ocidente não pode fechar-se, sem que a Península seja nele envolvida e desfeitos todos os valores de coesão e criação dos respectivos povos – de coesão para se manterem íntegros, de criação para se projectarem no futuro. Quem pensar que se trata de preferência por doses maiores ou menores de democracia ou de liberalismo, de mutações de pessoal governante, do interesse de classes ainda desfavorecidas ou injustamente tratadas, não vê a questão em toda a sua latitude. Esses podem ser meios; mas não os fins. O que se intenta é desintegrar valores eficientes de uma civilização e libertar posições essenciais para avanços necessários noutras direcções. Apetecia-me fechar este capítulo com uma frase do Evangelho: «e quem tiver ouvidos de ouvir, ouça»; mas não posso concluí-lo sem chamar a atenção para o seguinte. Este género de guerras que chamam psicológicas substituem hoje as lutas armadas mas só podem conseguir os mesmos objectivos, se a Nação não temperados os nervos, como se faz mister. Não digo que não sejam também precisas as armas, mas é necessário começar por ter um ânimo forte, seguro da sai verdade; quer dizer, uma doutrina, uma consciência, a decisão de não se deixar vencer. Habituados como Nação, desde séculos, a mandar em nossa casa, não julgamos possível serem bem sucedidas interferências estranhas que apoiam antinacionais do interior. Aguentar! Aguentar! E nada mais é preciso para que amaine a tempestade e se nos faça justiça.
Florilégio de pensamentos- Algumas das Mais Belas Páginas de Salazar (62)
Nós somos uma modesta Nação – Ed. Do SNI, págs. 4 a 6 Edições Panorama - Lisboa 1961
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