21 de novembro de 2024   
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Quando me ponho a reflectir sobre a crise interna e externa por que passa a nossa civilização, não me acode ao espírito duvidar da capacidade universal dos seus princípios, nem desse halo espiritual e humano que lhe permite elevar por simples efeito da sua irradiação até a uma fraternidade universal as almas, as raças, os povos. Mas além de ser já grande diminuição do potencial civilizador ter-se aqui e além perdido a fé na sua superioridade intrínseca, eu vejo que nos estamos por vezes comportando como se esses conflitos de civilização estivessem postos só para discussão de filósofos em doutas academias.
E o que receio então? Direi francamente que tenho medo… do medo.
Esta Europa, que foi berço de nações e agente missionário da civilização que tão esforçadamente servimos e propagámos, afigura-se cansada da sua mesma grandeza, em parte amolecida pelas coisas fáceis da vida. Penso que ela sente demasiado medo da pobreza e do sofrimento, que são afinal a vida. Ora ter medo da vida e ter medo de bater-se para defender a dignidade dessa mesma vida são a maior causa do nosso abatimento e Deus queira não sejam da nossa perdição, pois aqueles que se nos opõem, se mostram desprezo pela vida alheia, também estão decididos a jogar a sua. E daí concluo que nenhuma superioridade moral ou intelectual demoverá ou fará recuar os bárbaros do nosso tempo – tão sábios e tão «técnicos» como nós próprios – e que, se quisermos sobreviver, teremos que estar resolvidos a lutar.
Estas palavras seriam talvez duras no seio de ideólogos impenitentes, ou mesmo nalguns centros onde os exercícios da oratória, trovejando contra a barbárie, só têm convencido os mais fracos. Mas podem ser ditas entre nós, que, apesar de pequenos e pobres, temos a consciência de uma missão a cumprir. A paz é sem dúvida supremo anseio e necessidade de coexistência social, mas a paz é uma posição recíproca, pelo que é preciso estar disposto, em face de poderes agressivos que não desarmem, a lutar por aquilo que temos como essencial à nossa vida e à vida da nossa Pátria.
Vós compreendeis o que eu quero dizer. Eu creio em vós.


Florilégio de pensamentos- Algumas das Mais Belas Páginas de Salazar (60)

Conflitos de civilização - Discursos, Vol. V, págs. 387 a 389
Edições Panorama - Lisboa 1961

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Música de fundo: "PILGRIM'S CHORUS", from "TANNHÄUSER OPERA", Author RICHARD WAGNER
«Salazar - O Obreiro da Pátria» - Marca Nacional (registada) nº 484579
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