21 de novembro de 2024   
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Sucederam em poucos anos factos cuja génese e desenvolvimento costumam demandar séculos. Vivemos crises – financeiras, económicas, políticas – e sofremos guerras – civis, internacionais, intercontinentais, talvez as mais sangrentas e bárbaras de toda a história humana.
Modificou-se a estrutura dos continentes: a Europa cindiu-se, diminuiu-se, enfraqueceu-se; as Américas enriqueceram, fortaleceram-se, aumentaram de coesão; a Ásia insurgiu-se contra o primado civilizador do ocidente e procura consolidar a independência alcançada, sob a direcção de alguns dos seus povos: o japão? A China? A Índia? A própria Rússia? A África agita-se desde o Suez ao Atlas, desde o Mediterrâneo ao cabo da Boa Esperança – ao norte, para liquidar, sem saber como, as situações herdadas do passado; por toda ela, sob os ventos revoltos que sopram com a ousada pretensão de acordá-la de um sono secular. Destas subversões, na maior parte catastróficas, resultou ruírem tronos, desaparecerem impérios, afundarem-se nacionalidades, surgirem novos Estados, alterarem-se as posições de força e sentir-se a necessidade de buscar novo equilíbrio em combinações diferentes.
Fizeram-se nos campos político e económico as experiências mais ousadas, umas com sequência, abortadas outras em grandes insucessos. Viram-se governos totalitários defendidos pela razão e a vontade do povo, e viu-se chamarem-se populares governos de clara origem e essência minoritária. Presenciou-se em plena acção o socialismo das nacionalizações e dos racionamentos, enquanto o comunismo alastrava por vastas zonas do mundo. Assistiu-se à morte do liberalismo económico e viram-se os regimes democráticos tenteando o caminho, perante a necessidade de disciplinas drásticas impostas pelos novos tempos. Presenciou-se um novo surto de suspeito humanitarismo contra a posse dos territórios coloniais, ao mesmo tempo que o estabelecimento, em vasta escala, de regimes de submissão e colonização sobre nações civilizadas e livres. Verificaram-se migrações forçadas dos povos, maiores que as dos tempos bárbaros, trocas de populações, massacres em massa para solução de pretensas dificuldades políticas. Foi chamada a inteligência a legitimar as quebras da moral, bem como os colapsos da legalidade e da justiça; criminosos arvoraram-se em juízes e condenaram as pessoas de bem.
São tempos apocalípticos os nossos, época de regressão ou de transição violenta em que se abalam os alicerces antigos antes de estarem abertos ou consolidados aqueles em que se supõe dever assentar a cidade nova. De tão grandes convulsões sentem-se repercutir os efeitos tanto nas grandes massas como no escol social. A consciência da insegurança do que há mais caro ou mais necessário na vida – ideias e afectos, sociabilidade e ordem, instituições e bens – criou nos espíritos um estado de insatisfação, de angústia, de ansiedade. É uma doença geral que paralisaria mesmo a vida e o trabalho, se não fosse o instituto de viver e a necessidade do trabalho para levar a vida. Nada de estranhar que por quase toda a parte os homens pareçam inferiores aos acontecimentos e que, em vez de enfrentá-los, se sintam tentados a confessar, vencidos, esmagados por eles, a sua incapacidade de os dirigir.
E tudo em vinte anos: que poder de destruição e de anarquia o destas forças incontroladas!


Florilégio de pensamentos- Algumas das Mais Belas Páginas de Salazar (49)

São tempos apocalípticos os nossos… - Discursos, Vol. V, págs. 50 e 53
Edições Panorama - Lisboa 1961

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Música de fundo: "PILGRIM'S CHORUS", from "TANNHÄUSER OPERA", Author RICHARD WAGNER
«Salazar - O Obreiro da Pátria» - Marca Nacional (registada) nº 484579
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