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É erro crasso alimentar no nosso espírito a ideia de que para cada dificuldade e em cada emergência só há uma solução ou mesmo só uma solução boa. A teoria do “único” deve ser varrida da política que por exigência várias é o terreno das fórmulas múltiplas e das combinações possíveis. A vida é rica de soluções e os homens demonstram na acção virtualidades imprevistas e por vezes ignoradas. O que temos a fazer é escolher de entre os muitos servidores do mesmo ideal uma pessoa que convenha ao alto exercício da magistratura suprema do Estado, pelas suas qualidades e virtudes, pela dignidade da sua vida, pela compreensão do interesse público e das necessidades da política nacional, pela sua adesão, melhor direi, pela sua integração na ordem das ideias que nos têm inspirado e de cuja realização seja o primeiro garante. Não percamos tempo a invocar a cada instante um passado que não se reviverá mais, nem a confrontar miudamente exigências ou qualidades, méritos ou atitudes, nem a erguer em padrão definitivo e invariável certo exercício ou mandato presidencial que é seguro um desempenhará sempre diferentemente de outro. Não nos preocupemos se não há um sábio, um santo, um herói, quando o que sobretudo nos é necessário é um homem espiritualmente integrado na missão histórica da Nação Portuguesa, que se sinta, ele próprio, sentinela vigilante da defesa e da continuidade da Pátria. Em última análise: um homem de bom espírito e de boa vontade, portuguesmente uma pessoa de bem. E riscos? Não correremos riscos? Respondo: não mais que os inerentes a toda a empresa humana, pelas reacções até certo ponto imprevisíveis de quem exerça o Poder, perante as mil contingências e dificuldades da vida, reacções aliás condicionadas e temperadas pelo jogo das instituições, pela opinião política e pelos interesses da Nação que se deverão pressupor sempre bem interpretados e defendidos. Escrevo estas palavras com a segurança de que a posição exposta não vai agradar, por um ou outro motivo, a grandes sectores de opinião. Nenhuma solução prevista para o nosso problema político teria aliás o mérito de contentar toda a gente: uns pela inteligência, outros pelo sentimento, prefeririam que as coisas se apresentassem de modo diverso. Em momentos cruciais como o presente, as pessoas responsáveis por decisões que podem ser muito graves para a vida de um país esforçam-se em vão por apelar para um dom divinatório que a natureza lhes recusa. Por isso mesmo não se fugiu a nenhum esforço de reflexão, de consulta, de apreciação objectiva de todos os elementos que permitissem acertar. Os habituados às manobras políticas não entenderão mesmo o cuidado com que se procura a orientação conveniente. Mas nada disto nos dispensa, antes parece exigir atenção sempre desperta, esforço perseverante, trabalho de adaptação contínua às novas circunstâncias. É o que de modo especial nos impõe agora. Pela minha parte creio sinceramente que as dificuldades actuais não são superiores às que podem vencer espíritos esclarecidos, vontades firmes, e sobretudo aquela chama não extinta, mas viva e crepitante, que se acendeu na alma dos Portugueses para a regeneração material e moral da sua Pátria. E essa não permitirá nunca retroceder.
Florilégio de pensamentos- Algumas das Mais Belas Páginas de Salazar (48)
A vida é rica de soluções - Discursos, Vol. V, págs. 20 e 23 Edições Panorama - Lisboa 1961
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