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Quando, terminado o grande conflito e desanuviada a atmosfera que pesara duramente sobre o Mundo, as mulheres portuguesas quiseram testemunhar-se o seu apreço, viu-se ser impossível fazer chegar a quem quer que fosse, sem injustiça ou melindre, uma palavra de agradecimento. De todos os cantos do País, aos milhares, às muitas dezenas de milhares, nomes ilustres ou ignorados – almas envoltas na humildade do desconhecido – ofertaram-me durante semanas, fizeram cair sobre mim, como chuva de flores, aquelas palavras que eu não tinha lido até então e só o coração da mulher, liberto de um grande pesadelo, pode de facto encontrar. Por aquele motivo nunca as agradeci. Sei agora que se desejou ir mais longe e, afrontando o lugar-comum de os povos não serem gratos, a mesma mulher portuguesa – mãe, esposa, irmã ou filha de todos os que somos em Portugal – fez fixar na história e na arte com tenacidade bem feminina ao menos um momento de gratidão. Se devida ou merecida, não sei. Sei apenas que alguns curtos anos foram como uma longa vida e que a vida tão longa e dura não a poderia viver outra vez. Na delicada mensagem que há pouco me foi entregue, em nome de todas vós, pela veneranda Senhora, a Condessa de Sabugosa, li um passo ousado – a pretensão de apresentar-me aos vossos filhos como exemplo de grande português. Português, sim, sem adjectivação, sem qualificativo, sem mais nada que não seja a preocupação absorvente de Portugal, cuja honra e grandeza repousam afinal tanto sobre os ombros dos homens do Governo como sobre os vossos – mães e educadoras dos portugueses. Trocarei por isso aquela ideia por outra, e é: quando todos cumprem o seu dever, como os Portugueses fizeram, só Deus sabe quem é grande ou quem pode ser maior. Às Senhoras presentes e a todas aquelas que estão em espírito connosco e cuja maior contribuição para esta homenagem é porventura o sacrifício de não estarem aqui neste momento, agradeço comovidamente o carinho, a sinceridade, a doçura da sua manifestação.
Florilégio de pensamentos- Algumas das Mais Belas Páginas de Salazar (43)
Às mulheres de Portugal - Discursos, Vol. IV, págs. 315 a 317 Edições Panorama - Lisboa 1961
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