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Esta ideia de irmandade e de sujeição a um destino comum entre os mais povos da terra não deixámos de vivê-la um momento, nem quando celebrámos festivamente os oitocentos anos da nossa vida independente, nem na hora alta da consagração do esforço missionário português em Roma, nem antes nos tristíssimos anos de guerra em que Macau e, ainda mais duramente, Timor tiveram de sofrer privações e ameaças ou mesmo as inclemências da invasão e ocupação estrangeira. Mas agora curamos as feridas e muito simplesmente continuamos a nossa vida. Chegam-me de quando em quando os ecos de longínquas e apaixonadas campanhas em relação com os laços que ligam Portugal às suas províncias do Oriente; e entristece-me notar alguma vez envolvidos nelas nacionais que deixaram estiolar no coração o afecto que devia prendê-los à família portuguesa. Se podem desgostar-nos injustiças, aliás um tanto explicáveis pelas paixões desencadeadas neste momento convulso da história do Mundo, elas não chegam para inquietar-nos seriamente. Em primeiro lugar, devemos cofiar no espírito de justiça e de respeito pelos direitos alheios sobre que se está procurando construir a sociedade futura; Em segundo lugar, são amistosas e leais as relações que nos ligam às nações mais próximas vizinhas das nossas pequenas comunidades. E não falo em que, sendo nós uma irmandade de povos, como lhe chamei, a todos nos liga, mais que ténue solidariedade política, uma verdadeira fraternidade. Bem vistas as coisas, os princípios de igualdade racial, de independência, de elevação moral e material dos povos, se alguém os pregou e os executa na medida das máximas possibilidades, somos nós. Não temos de iniciar agora viagem com vento de feição, mas de prosseguir caminho trilhado em séculos. Se, por exemplo, nos sentimos indissoluvelmente presos ao Estado português da Índia, não é pelos interesses materiais – pequenos para nós e para outros – mas porque constitui, com Macau, um padrão do espírito do Ocidente que tivemos a glória, cometemos a audácia, fizemos o sacrifício de implantar ali, tornando possível S. Francisco Xavier e, com ele, a esplêndida floração da mais alta espiritualidade cristã.
Florilégio de pensamentos- Algumas das Mais Belas Páginas de Salazar (42)
Um destino comum - Discursos, Vol. IV, págs. 282 a 284 Edições Panorama - Lisboa 1961
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