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Quando se pensa no que Portugal ou a Suíça - para não falar de outros com igual razão - têm feito para salvar do naufrágio os restos da solidariedade humana num mundo praticamente todo em guerra; quando se considera o valor dos pequenos oásis onde a vida não é ódio ou desespero e a simpatia dos corações não distingue povos ou raças mas apenas o sofrimento e a necessidade; quando se reflete na porção de ar, de luz, de esperança que as poucas janelas abertas sobre o grande oceano representam para a Europa sequestrada de grande parte da sua vida e da sua glória - deveria louvar-se a Providência. Porque ela faz sobreviver nos homens ao rancor das lutas o sentimento do bem e permite manter entre as nações em guerra a consciência da paz. Cómoda ou incómoda, egoísta ou não, a neutralidade não é vantajosa senão quando serve o interesse nacional e o maior deles na concorrência de vários. Esta ideia envolve outra - a de a neutralidade estar sujeita a contínua revisão, e por isso não poder alguma vez dizer-se que é definitiva. Ela depende mais dos factos que dos propósitos, mais de outros que a desrespeitem do que do próprio que pretenda mantê-la. Nem isto quero dizer que não haja uma política de neutralidade (creio termo-lo demonstrado); mas significa que, estando o mundo em guerra, mal pode alguém afirmar que em quaisquer circunstâncias se lhe conservará estranho. Numa palavra: o desejo de neutralidade não pode ser superior ao interesse da Nação. E sendo tão sinceramente neutrais, como somos, julgo prudente que o nosso espírito não amoleça na ideia de se não bater.
Florilégio de pensamentos- Algumas das Mais Belas Páginas de Salazar (35)
Os restos da solidariedade humana – Discursos, Vol. III, págs. 341 e 342 Edições Panorama - Lisboa 1961 Consultar todos os textos »»
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