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Estamos no convento piedosamente erigido em comemoração da batalha, e assim chamado por esse motivo, rente à igreja onde gerações de crentes se revezam em oração, a dois passos da capela do fundador onde repousam, D. João I, D. Filipa de Lencastre, os filhos (como se o carinho dos pais e a devoção filial mesmo na terra sobrevivessem à morte) – família heroica, «ínclita geração», toda sacrificada ao serviço da Pátria no estudo, nas guerras, nas descobertas e conquistas, na governação; e muito perto, na sala do Capítulo, não sei quem, filho do povo decerto, em pleno direito admitido destacadamente à convivência real do mosteiro, representa os desconhecidos esforços, as contribuições anónimas sobre que assentam as vitórias e a tantos séculos de distância o mesmo sacrifício da vida pela mesma causa da Pátria. Não sei que tenhamos em Portugal ambiente de maior espiritualidade, onde a nossa alma mais penetrada se sinta de elevados sentimentos; Deus, a Pátria, a Família, o dever, o sacrifício, o desinteresse, a paz dos mortos têm aqui representações ou projecções sensíveis, tocantes, sem que ao mesmo tempo deixe de respirar-se o ar alvoroçado das vitórias. Nós somos filhos e agentes de uma civilização milenária que tem vindo a elevar e converter os povos a concepção superior da própria vida, a fazer homens pelo domínio do espírito sobre a matéria, pelo domínio da razão sobre os instintos. Eu não desejaria por isso que nesta romagem para exaltação do sentimento da independência nacional, deixassem de ser considerados aqueloutros elementos humanos e sobre-humanos com os quais podem e devem coexistir as pátrias, e em cujo ambiente e defesa há-de florescer o nosso nacionalismo. São lutas de civilização – tantos cegos o não veem! – são lutas de civilização aquelas a que assistimos, e é verdade que entra pelos olhos estar-se a medir hoje a vitalidade dos povos pela soma de energias trazidas a este gigantesco debate. A nossa causa nem se nos pode perguntar qual seja – ela resulta da história e da nossa formação moral; a parte que nela tomam os portugueses há-de aferir-se pelo inteiro sacrifício da vida e da fortuna pelo que para nós excede em valor a fortuna e a vida.
Florilégio de pensamentos- Algumas das Mais Belas Páginas de Salazar (18)
Em comemoração da batalha – Discursos, Vol. II, págs. 177 a 179 Edições Panorama - Lisboa 1961
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