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Os tempos vão excessivamente duros. Quando, ao considerar as tempestades e as que ensombram o futuro próximo, eu vos digo que sois a geração sacrificada, a geração do resgate, alguns de ânimo menos valoroso ou menos preparado sentem que alguma coisa rasga a delicadeza da sua alma e não se furtam a repetir a frase do Evangelho. São duras estas expressões, Sem dúvida, mas são verdadeiras. Quando Roma foi tomada pelos bárbaros e com ela caiu o Império do ocidente, muitos dos mais altos espíritos não puderam formar a ideia da vida no futuro que começava e não foram superiores à impressão de que findar o Império Romano era acabar a sua civilização e que o fim desta era o caos do mundo. Quando os turcos tomaram Constantinopla e puseram ponto final ao Império romano do oriente; quando o fortalecimento do poder real provocou a queda do feudalismo e os reis, apoiados no povo e na pequena burguesia, travaram batalha decisiva contra os poderes políticos da nobreza; quando mais modernamente ainda se libertou grande parte do trabalho manual pela abolição da escravatura; sempre enfim que fortes abalos na marcha do mundo produzem alterações fundamentais ou substituem inteiramente certos conceitos básicos da vida política, económica ou social, muitos são os que vaticinam a vida efémera das coisas novas ou, a durarem, o fim do mundo. É, de facto, o mundo que desaba, não o mundo exterior – os homens e o planeta – mas o mundo das nossas ilusões. Dos nossos desejos, dos nossos interesses, dos nossos egoísmos, dos nossos hábitos, dos nossos sentimentos, das nossas posições, das nossas ideias, das nossas relações com o semelhante.
Florilégio de pensamentos- Algumas das Mais Belas Páginas de Salazar (16)
Os tempos vão excessivamente duros – Discursos, Vol. I, págs. 303 a 305 Edições Panorama - Lisboa 1961
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