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Obrigados a viver numa civilização que precisa de ser corrigida para não matar os homens que devia servir, que vicia o ar, cansa os sentidos, esgota os nervos, desequilibra as faculdades, força a máquina a exagerado rendimento psíquico, condena a uma intensidade de vida que custa a suportar, que custa a viver, nós somos simultaneamente obrigados a uma obra de defesa, a uma preparação psíquica e moral que compense os desgastes e torne menos sensíveis aos organismos os estragos do meio. Por falta de sincronismo entre estas medidas de defesa e a acção perturbante, devastadora, sobretudo dos grandes aglomerados urbanos, a potencialidade procriadora da raça e as suas condições de resistência física diminuem sensivelmente. Diminuiriam ainda que não viesse a acrescer a tudo isto o facto de em muitos indivíduos se não verificar hoje conveniente satisfação de necessidades vitais. Fujamos à visão unilateral do problema e entendamos que é preciso para resolvê-lo satisfatoriamente ir do combate às doenças sociais até à protecção da mãe e da criança, desde a alta dos salários e a higiene das condições de trabalho até ao ensino do governo doméstico e à elevação da vida familiar, desde a generalização da instrução até à maior disciplina moral, desde os jogos ao ar livre até ao maior contacto com a natureza, senão mesmo ao regresso sistemático ao campo e às suas virtudes. Que pena me faz a mim, filho do campo, criado ao murmúrio das águas de rega e à sombra dos arvoredos, que esta gente de Lisboa passe as horas e dias de repouso acotovelando-se tristemente pelas ruas estreitas, e não tenha um grande parque, sem luxo, de relvados frescos e árvores copadas, onde brinquem, ria, jogue, tome o ar puro e verdadeiramente se divirta em íntimo convívio com a natureza! Que pena me faz saber aos domingos os cafés cheios de jovens, discutindo os mistérios e problemas de baixa política, e ao mesmo tempo ver deserto este Tejo maravilhoso, sem que nele remem ou velejem, sob o céu incomparável, aos milhares, os filhos deste país de marinheiros!
Florilégio de pensamentos- Algumas das Mais Belas Páginas de Salazar (15)
Convívio com a natureza – Discursos, Vol. I, págs. 269 a 271 Edições Panorama - Lisboa 1961
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