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Quando Bourget pôs em «Le disciple» a tese da responsabilidade do escritor pelos efeitos da sua obra na inteligência e na moral dos seus admiradores e sequazes, parece ter-se operado um movimento de espanto sobretudo nos que tendiam a formar da literatura e da arte mundos à parte, bastando-se a si próprios, tendo em si mesmos a sua finalidade e razão de ser, e não viam nelas manifestações humanas, integradas na vida, e susceptíveis de a embelezar, de a melhorar, de ajudar o homem na conquista dos seus fins últimos. Esses desconheciam as profundas realidades humanas, perderam a rota das grandes certezas morais, criaram o amoralismo e a arte pela arte, como frutos lindos de ver-se, mas inaproveitáveis ou nocivos. Na melhor das hipóteses desperdiçou-se o génio em prejuízo da humanidade. A tese da responsabilidade pode continuar a discutir-se teoricamente, abstractamente; mas aos homens que sentem sobre os ombros o peso da direcção dos povos ensinou-lhes a história, quando não a observação própria, coincidir a decadência com certas manifestações mórbidas das inteligências e das vontades, com a pretensa emancipação do jugo de regras superiores, impostas ao homem e derivadas da sua natureza e dos seus fins. Para elevar, robustecer, engrandecer as nações é preciso alimentar na alma colectiva as grandes certezas e contrapor às tendências de dissolução propósitos fortes, nobres exemplos, costumes morigerados. É impossível nesta concepção de vida e da sociedade a indiferença pela formação mental e moral do escritor ou do artista e pelo carácter da sua obra; é impossível valer socialmente tanto o que edifica como o que destrói, o que educa como o que desmoraliza, os criadores de energias cívicas ou morais e os sonhadores nostálgicos do abatimento e da decadência.
Florilégio de pensamentos- Algumas das Mais Belas Páginas de Salazar (12)
A tese da responsabilidade – Discursos, Vol. I, págs. LV a LVII Edições Panorama - Lisboa 1961
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