21 de novembro de 2024   
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Há dores, amargas, misérias em toda a parte, mesmo nos esplendores da opulência e da grandeza; mas em quase todo esse mundo da produção que penosamente ganha a vida, é tal a rusticidade, a limitação dos meios, a insuficiência do indispensável a alimentar e vestir o corpo, a agasalhar a família, a debelar a doença, a vencer a adversidade do luto, a constituir um lar, que a alma se confrange. Não se fala nos momentos excepcionais de crise em que o trabalho escasseia ou o custo da vida sobe mais que os proventos, nem da pobreza ou miséria, fatais da humanidade - «haverá sempre pobres no meio de vós»; mas do que entre nós é normal nos tempos normais, por excesso de trabalho umas vezes, modicidade de paga outras, deficiência de rendimentos geralmente.
Ao espírito de quem observa reflectidamente esse duro labutar e viver, uma dúvida surge: até que ponto contribui para isso a falta de um escol de dirigentes naturais – bons lavradores, bons industriais, bons comerciantes – que devera estudar, organizar, dirigir, educar, proteger, dar o exemplo? Muitas; mas o que mais desinteressadamente devemos procurar aqui são as culpas de quem governa. Até onde responderão pela miséria material e moral do povo a estrada que não foi aberta, o caminho que não foi consertado, a fonte que se não canalizou, a escola que se não mandou abrir, o peso de serviços públicos pouco eficientes, as massas compactas de funcionalismo e das profissões liberais carregando sobre a base pouco larga e consistente de produção, a desordem da administração pública, a falta de crédito do Estado, o parasitismo social, a inexistência de direcção superior impressa ao conjunto da economia nacional, as deficiências de organização, as negociações mal conduzidas dum tratado, uma lei que se não fez, um despacho que não chegou a ser dado, a desatenção aos abusos, a desprotecção dos fracos? Quem sabe? Pois em avanço que por vezes a relação de causa para efeito é tão directa e rigorosa que se pode medir em sacrifícios, em lágrimas ou em miséria dos povos, o que fazem ou não fazem os governantes.
Assim, é possível que homens, levados pela sua origem, pela sua vida ou inclinação do espírito, à consideração do que falta à grande massa dos seus concidadãos, resignada e impotente para se elevar por si; do que essa gente precisaria para uma vida aceitável, mesmo dentro de pobre mediania, tenham formado um conceito diverso mas mais humano da colectividade nacional, e trabalhem do alto do poder sem descanso, afinco, com raiva… porque uma mulher tem fome ou chora de frio uma criança.



Florilégio de pensamentos- Algumas das Mais Belas Páginas de Salazar (04)

Há dores , amargas, misérias - Salazar, em António Ferro, págs. XXI a XXIII
Edições Panorama - Lisboa 1961

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Música de fundo: "PILGRIM'S CHORUS", from "TANNHÄUSER OPERA", Author RICHARD WAGNER
«Salazar - O Obreiro da Pátria» - Marca Nacional (registada) nº 484579
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