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(Continuação)
que nós somos. Isto pode parecer um sofisma, da antiga escola política, mas não é. Estudámos o caso, demoradamente, com o maior interesse e isenção, porque não gostamos de iludir-nos, e ficámos convictos do que afirmámos. Em primeiro lugar, verificamos, logo, que nem os próprios intelectuais, doutrinários da chamada oposição, têm nada a dizer, de substancial e procedente, contra o Regime, o Estado Novo. Eles limitam-se sempre ao chamado problema das liberdades; e, quando saem disto, é apenas para denunciarem erros de execução, fraquezas dos homens, desvios de doutrina, ou traições que eles mesmos alimentam, porque delas se vão também alimentando... Ora, como criticar erros, fraquezas humanas e desvios de doutrina, não é ser contra o Estado Novo (porque isso também nós fazemos, consoante aliás se impõe, e nada disso afecta a legitimidade e a bondade do Regime) devemos concluir que nem os próprios intelectuais são, no fundo, contra o Estado Novo, visto pronunciarem-se daquele modo sem nunca lhe oporem sucedâneo... E a contra-prova desta asserção está em que, ultimamente, começaram a fundamentar-se na Constituição Política para pedirem, ao seu abrigo, a execução estrita de alguns dos seus artigos, o que não é, de forma alguma, ser contra o Estado Novo mas pedir apenas o cumprimento dos seus preceitos constitucionais... Onde está, então, o busílis da questão? É que esses intelectuais, regra geral, não têm escrúpulos, depois disso, em convencer multidões ingénuas e desvairadas de que o Estado Novo não existe, porque nós não desejamos realizar a doutrina em que ele assenta, não respeitamos a Constituição, somos fascistas, totalitários inimigos natos do povo trabalhador e das liberdades públicas, e nutrimos o secreto desígnio de manter o País desconstitucionalizado para o irmos oferecendo à cupidez de sucessivas ditaduras mais ou menos plutocráticas. E, então, eles e as multidões por eles desvairadas levantam-se contra aquilo que, pérfida ou sinceramente, julgam ser o Estado Novo, propondo-se derrubá-lo, mesmo sem terem nenhum Regime para o substituir, qual que solução viável — a sombra de uma ideia que resista à luz mais ténue de uma crítica sensata! É claro que entre esses intelectuais, doutrinários de oposição, há os que são sinceros e os que se movem apenas por baixos sentimentos, como aliás sucede sempre em todos os tempos e em todos os campos. É dos primeiros que nos ocupamos, evidentemente, pois seria ridículo argumentar acerca de intelectuais que agem junto dos simples, em nome dos mais altos sentimentos da humanidade, com o propósito oculto de satisfazerem apenas os mais baixos... E, assim, temos de admitir a existência, para além da zona mefítica da patologia social, de um certo número de intelectuais idealistas preocupados, seriamente, com a garantia das liberdades essenciais, a defesa dos pequenos contra os grandes, a moralização da administração pública, etc.... E são estes, sem dúvida alguma, que, não acreditando na nossa sinceridade, procuram incompatibilizar-nos com os simples e os neutros, arvorando-se em seus defensores oficiosos contra as nossas supostas prepotências, e levando-os, às vezes, de coração exacerbado, a darem morras contra quem lhes não fez mal nenhum, e a ignorarem um Regime cuja essência é, precisamente, a justiça social. Mas a psicologia das multidões já não tem hoje segredos... Gustavo Le Bon penetrou-a fundamente, e, de então para cá, nenhum mistério subsiste. E, por isso mesmo, a técnica da formação e domínio de multidões aperfeiçoou-se de tal modo que, em poucos anos, nos foi possível assistir, por exemplo, ao espectáculo
(Continua)
Documentos Históricos (53)
Passado, Presente e Futuro
Conferência realizada em Viseu, pelo escritor Costa Brochado, em 14 de Junho de 1960, perante as comissões políticas do distrito, sob a presidência do governador civil, Exmo. Sr. Dr. Marques Teixeira (5 de 8)
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