(Continuação)

dias, em Lisboa, o Infante D. Henrique e D. Vasco da Gama: “Talvez estas duas figuras da vossa História hajam contribuído mais para enriquecer a vida da Humanidade de que os conhecimentos científicos das duas últimas décadas.”
Está, aqui, concentrada, neste período nobilíssimo, toda a essência do universalismo português, o fundamento do lugar primacial que ocupamos na História da Civilização, e o direito e a razão que nos assistem para continuarmos a nossa missão histórica.
Para a prosseguirmos são precisos, porém, chefes daquela estirpe, capazes de abarcarem a universalidade dos tempos e resumirem as aspirações da grei. «Mas — como afirmou, no mesmo discurso, o Presidente Eisenhower, — chefes desta envergadura existem também no Mundo de hoje. Temo-los connosco. Observando o vosso País, pude verificar o progresso e os melhoramentos aqui levados a cabo nestes nove anos posteriores à minha última visita sob a direcção do vosso Presidente do Conselho, Doutor Salazar».
Esta aproximação do Infante e Salazar interessou-nos particularmente, porque há muito assinalamos na missão histórica de ambos eles flagrantes paridades que nem os séculos conseguem diluir. Quando o Infante D. Henrique iniciou a sua tarefa gigantesca ninguém o acreditava. As aristocracias, divididas, sorriam-se dos seus planos, e o povo, desnorteado por elas, tinha medo do mar tenebroso e duvidava das suas próprias forças. O Infante teve, por isso, de sobrepor-se a todos e a tudo, vencendo, com seu génio de guia de eleição, o cepticismo aristocrático e a modora popular, até se desfazer em Alfarrobeira a grave crise de Regime e se restabelecer no Bojador a fé e a confiança de toda a grei. Para isso criou o Infante, com holocausto da própria vida, a chamada Escola de Sagres que não foi senão um movimento de unidade nacional, visando a salvação da Pátria no estudo e na acção da tarefa universal em que todos os Portugueses poderiam e deviam ocupar-se.
A visão do génio foi tão certa e profunda que, mal começaram a regressar as primeiras caravelas de África, a Nação inteira entrou de proclamar, entusiasmada, como diz o cronista, que aquilo só podia ser porque o Infante D. Henrique era um novo Alexandre! E a pouco e pouco a Escola de Sagres foi unindo, reunindo, teorizando e confirmando, numa política nacional jamais ultrapassada, os três Estados do Reino, as classes sociais, todos os Portugueses, individualmente, um a um, por assim dizer. De tal modo que, quando Infante morreu, em 1460, ficavam montados, de alto a baixo, tais quadros de estudos e serviços (como hoje se diria) que se tornou fácil erguer esta Nação, rapidamente, nos dois, reinados seguintes a todas as grandezas que lhe deram lugar de honra na História Universal.
Temos meditado, muitas vezes, neste dilema crucial: sem o génio do Infante não teria havido a epopeia dos Descobrimentos, mas se D. Henrique não tivesse criado a Escola de Sagres e legado à Nação, através dela, uma política nacional, legiões de discípulos, e colaboradores conscientes, tudo acabaria na sua morte e bem decerto não estaríamos homenageando agora a sua memória imperecível.
O que a História parece ensinar, portanto, é que a missão dos guias, o verdadeiro papel dos chefes de eleição, consiste em interpretarem a universalidade do presente, traçando as linhas mestras do futuro, por forma que os povos perdidos em atalhos reencontrem a estrada lisa dos seus destinos. E é por isso que constitui ingenuidade, nuns, e ignorância, noutros, suporem que a teoria dos chefes, ou guias, exclui a voz activa da Nação, e convida os povos a

(Continua)

Documentos Históricos (50)

Passado, Presente e Futuro

Conferência realizada em Viseu, pelo escritor Costa Brochado, em 14 de Junho de 1960, perante as comissões políticas do distrito, sob a presidência do governador civil, Exmo. Sr. Dr. Marques Teixeira (2 de 8)