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(Continuação)
Se esse estudo houvesse sido realizado por personalidades independentes e imparciais, a quem Portugal garantiu formalmente total liberdade de movimentos, teria aquele órgão, e portanto todos os seus membros, verificado de modo incontroverso a falsidade das acusações que nos têm sido dirigidas nessa matéria. Afigura-se-nos que, tendo sido rejeitada a proposta, a palavra de Portugal deveria ser aceite por todos, sem contestação. Não obstante o malogro daquela proposta, ainda recentemente voltámos a fazer um convite formal aos Estados africanos a quem nos ligam relações especiais de vizinhança ou de amizade, para enviarem representantes seus qualificados a fim de, sem daí lhes advir qualquer responsabilidade ou compromisso, se informarem acerca das condições reais em que aqueles territórios se desenvolvem e em que as suas populações de todas as raças vivem e progridem. Não sabemos até este momento o seguimento da nossa oferta. Na mesma orientação muito desejaria que, antes de tomar qualquer decisão, Vossa Majestade pudesse enviar a Angola e Moçambique um seu representante qualificado, para investigar localmente aquelas condições, e, para o efeito, aqui dirijo a Vossa Majestade o respectivo convite. Quanto ao segundo aspecto, posso assegurar a Vossa Majestade Imperial que o Governo Português tem acompanhado com a mais cuidadosa atenção os processos de evolução económica e social, e não apenas político, que o continente africano vem experimentando nos últimos anos. Ao Soberano de tão antiga Nação de África e ao Estadista de tão rara lucidez como Vossa Majestade tem demonstrado ser ao longo do Vosso reinado, sei poder confiadamente revelar as nossas preocupações e o nosso pensamento. Conhece Vossa Majestade a complexidade dos problemas económicos e sociais do continente africano. O seu desenvolvimento tem sido e é ainda marcadamente irregular, verificando-se que, onde as estruturas sociais, económicas e culturais assentam em bases caldeadas pela História, como é o caso da Etiópia, existe uma consciência nacional caracterizada. Mas, e sobretudo no que respeita à África ao sul do Sáara, existem actualmente zonas de perturbação grave que traduzem inadaptação da estrutura sociológica local às condições e exigências de Estados modernos que aí se pretenderam implantar, se bem que nalguns casos os territórios e populações em causa estejam servidos por estadistas africanos a cujo nível intelectual, capacidade administrativa e dedicação se deve fazer justiça. Não pode deixar de haver estreita correlação entre o estado da evolução económica e social de um agregado humano e a sua estrutura política, pelo que entendemos ser perigosamente precária a atribuição de um estatuto político que se não encontre apoiado em realidades económico-sociológicas correspondentes. Quando, pois, a Organização das Nações Unidas proclama, como tem feito, que a falta de preparação nos domínios político, económico, social e educativo não justifica o menor adiamento na independência de qualquer território, está somente a impelir as populações para o caos em África e a lançar as bases da submissão do continente ao neocolonialismo, Isto se afirma em tese geral.
(Continua)
POLÍTICA ULTRAMARINA (20)
Relações diplomáticas entre Portugal e a Etiópia
Cartas trocadas entre o Imperador Hailé Selassié e o Presidente do Conselho de Portugal, Dr. Oliveira Salazar. Carta de sua excelência o Presidente do Conselho ao imperador Hailé Selassié I, de 29 de junho de 1963 (III de VI)
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